
Sou jornalista e gremista. Vivo intensamente essas duas condições, que jamais se anulam neste peito apaixonado e, ao mesmo tempo, vocacionado para a ponderação e a honestidade intelectual. E é pela visão de jornalista que resolvi escrever este texto sobre a minha paixão _ perceba, não há aqui um paradoxo. Jamais houve!
Bem, começo com uma digressão. Nasci gremista e convivi, infância afora, com referências históricas de um Grêmio unido, pacificado e forte. Gente do quilate de um Hermínio Bittencourt e de um Flávio Obino tinha amizade muito próxima com o meu pai, o conselheiro Henrique Gerchmann. Para o "Tio Bitenca", o pai sempre reservava algumas matzot (o pão ázimo judaico) na celebração do Pessach. O querido "tio Bitenca" até falava algo em iídiche _ aprendera com meu pai, claro. Outro grande amigo era Rudi Armin Petry, nosso vizinho na praia. "Seu Petry" e toda a família dele são seres humanos especiais. Foi ele que criou uma antiga e esquecida máxima gremista segundo a qual os problemas se discutem internamente. Externamente, a união deve se impor.
Por que faço essas reminiscências? Porque diversos fatos ocorrem ao mesmo tempo. Acompanhei em tempo real a reunião decisiva para a compra da gestão do nosso estonteante estádio, ocorrida na terça-feira. Converso muito. Tive a honra de lançar dois livros em que o Grêmio aparece como ambiente de diversidade. Vi líderes de diversas facções gremistas nas sessões de autógrafo. E quero falar de grandes dirigentes. Cito Paulo Odone, que ergueu aquele lar diferenciado, pondo o Grêmio um patamar acima como instituição. Cito o multicampeão Fábio Koff, que segurou a chave do Olímpico e foi decisivo para termos a gestão da Arena. Mal perceberam o quanto, mesmo que separados, trabalharam juntos. Cito Romildo Bolzan Jr, em quem votei para presidir o clube e pacificá-lo. Também quero falar em Antônio Vicente Martins, em Homero Bellini, em Marcos Herrmann, em Nestor Hein, em Adalberto Preis. Poderia lembrar outros. A lista iria longe. Quero ver meus amigos Beto Carvalho e Daniel Tevah trabalhando lado a lado pela preservação da imagem do nosso lindo clube.
Sei que o Grêmio tem a infelicidade de viver um processo eleitoral em setembro, quando as energias deveriam se dirigir para o campo de jogo. Ainda assim, peço: façam da deslumbrante Arena, aquele monumento tricolor na entrada de Porto Alegre, um símbolo arquitetônico da necessária concórdia e da poderosa união.