
Houve um reencontro. Confesso que o clima no estádio era de descontrole - tanto pela euforia quanto pelo fato de que nos faltava o traquejo, o domínio exato do jeito de fazer. Os torcedores se olhavam, buscando no desconhecido ao lado uma dica sobre como agir, até mesmo sobre a forma correta de cantar e gritar. Havia quem observasse os outros torcendo, como se fossem a plateia de si mesmos. Para tentar entender, para saber como se comportar - ou era simplesmente saudade? Saudade que me apertou também, que senti em comunhão com tantos que sonharam comigo até aqui.
A bênção Sandro Goiano, obrigado Galatto, os anjos de 2005. Aflitos nos deu um jeito novo de olhar o mundo. Alguns achavam que ali onde a improbabilidade gerou seu filho mais insensato também havia nascido uma condenação. Mas não. Ali, no Recife, o mundo viu o Grêmio colar para sempre uma outra palavra ao não: não perder.
Goiano, obrigado de novo pela expulsão injusta na Bombonera. Daquele momento tiramos uma certa indignação. Não era o momento em 2007, seria uma afronta sair da B e conquistar a América em menos de 20 meses. A benção Tcheco, tua mão estava na quarta-feira na taça, eu vi, fazendo de tudo para erguê-la mais alto. Tuas promessas não chegaram na hora propícia, quando estavas entre nós, mas ontem te pagamos a dívida da gratidão.
Obrigado Marcel, Willian Magrão, Rever, Rafael Carioca, jogadores médios daquele Grêmio que viu escapar um título que nos parecia tão certo em 2008. Naquele ano, nos refazíamos, nos reinventávamos, ainda não tínhamos o direito à glória. Obrigado Saja, obrigado Victor. A proteção de vocês se transferiu para mãos generosas de Marcelo Grohe.
Obrigado Jonas. Onde tu andas André Lima? Kleber Gladiador, sabemos das tuas melhores intenções e acreditamos nelas. Vocês fizeram gols que nos trouxeram até aqui com o melhor de nós: com a nossa crença. Foram gols que nos indicavam o chance de triunfo, que gritavam: estamos vivos! Lembrei do Borges da grande virada contra o Santos em 2010. Cada gol destes homens insinuou uma possibilidade, mas tudo ainda era muito impreciso, por isso a frustração - ou a resiliência?
A bênção Felipão pela tua existência. Ao Renato, por inventares o Grêmio moderno; Roger, por ter feito este povo afetuoso acreditar. Zé Roberto, Elano, Barcos, Douglas Costa, Wendell, sei lá, todos. Todos personagens de uma história de sucessivos nãos que agora chegou ao fim. Desta vez, foi um sim por todos que estavam lá e por aqueles que estavam vivendo a Copa longe da nossa nova Arena. Nunca uma vitória foi tão clara.
O que eu vivi na quarta-feira tem a marca do reencontro. Tantos que passaram, tantos que sonharam, tantos que se foram. Eu estive, dolorosamente, em cada nova vertigem ao longo do caminho. Fui a jogos acreditando. Fui a jogos temendo. Fui a jogos para abraçar desgraçadamente o não. Mas na quarta-feira era diferente, era o Grêmio diante do si mesmo. Na quarta-feira à noite, nos reencontramos. Éramos os de sempre, os imortais, os mortais. Na noite do Penta da Copa do Brasil, me vi torcendo e eu estava feliz.