
Um gigante reconstruído pelas mãos de dois ídolos espera o Grêmio no Equador. O Barcelona, de Guayaquil, se divide em antes e depois deles. José Francisco Cevallos, ex-goleiro do clube e da seleção, é o presidente desde o final de 2015. O diretor esportivo, o correspondente aqui no Brasil ao vice de futebol, é Carlos Alfaro Moreno, argentino de nascimento, equatoriano por opção e "torero" até a medula. Pelas mãos deles, o rival gremista na semifinal da Libertadores voltou a ser protagonista e a ocupar o lugar adequado para quem ostenta a maior torcida do país. Por telefone, Alfaro Moreno conversou com ZH.
O atacante da seleção argentina na Copa América de 1987, por quem Carlos Bilardo colocou Caniggia na reserva, é figura reconhecida no Equador. Não apenas pelos êxitos com o Barcelona. Formado em Comunicação Social, há 15 anos é o principal comentarista do canal RTS. Atua apenas nos jogos com selo da Fifa e da Uefa. Com eloquência e a mesma confiança com que partia para cima dos laterais, ele manda um recado ao Grêmio:
- A nossa campanha nos entusiasma. Sabemos que podemos fazer na quarta-feira o jogo mais importante da nossa história.
O Barcelona tem motivos para acreditar. Até 2015, patinava e via seu maior rival, o Emelec, mandar no país. No final daquele ano, em eleição acirrada e repleta de denúncias, Cevallos venceu dois caciques da política do clube com a promessa de fazer o Barcelona "voltar a ser o Colosso da América". Cevallos ficou conhecido no continente por defender a seleção e pelo título da Libertadores com a LDU, em 2008, o único do país. No Equador, no entanto, seu nome é ligaodo ao Barcelona, em que atuou de 1990 a 2006.
O Barcelona é um fenômeno que se vê em poucos países. Aqui, 70% da população do Equador torce para o nosso clube. Temos torcedores em todas as regiões do país.
Alberto Alfaro Moreno
Diretor esportivo do Barcelona
A primeira decisão de Cevallos foi levar Alfaro Moreno para o clube. Com os dois ídolos, o time quebrou a série de três títulos do Emelec. Fora de campo, eles implementaram gestão profissional, reorganizaram a base, contrataram jogadores emergentes no cenário local e repatriaram ídolos, como Damián Díaz.
- O clube estava em um momento crítico, pelos temas financeiros e legal, devido à um processo na Fifa (movido pelo Boca em 2013, por não receber sua parte na venda de Damián Díaz ao Al Whada). Colocamos em ordem e, quando um clube funciona bem em todos os aspectos, os jogadores funcionam bem também - diz Alfaro.
Dirigente garante que 70% dos equatorianos torcem pelo clube
O Barcelona é dono da maior torcida de um país separado pela Cordilheira dos Andes. Alfaro se entusiasma ao falar do assunto:
- O Barcelona é um fenômeno que se vê em poucos países. Aqui, 70% da população do Equador torce para o nosso clube. Temos torcedores em todas as regiões do país.
Talvez os 70% de Alfaro sejam exagero. Mas o percentual não fica muito distante disso. A prova são as escolinhas do clube espalhadas pelo país. São 52 ao total, com 4 mil garotos. A abrangência é tamanha que há até uma filial nas Ilhas Galápagos, santuário natural no Oceano Pacífico, a mil quilômetros da costa e uma das 24 províncias equatorianas.
Essas escolinhas eram um projeto particular de Alfaro. Quando assumiu, deu a elas o selo do Barcelona e transformou-as em fonte de captação de jogadores. O argentino é o responsável pelo futebol do clube em todas as categorias. Em 2016, a atual gestão criou o Toreros, filial que joga a divisão estadual.
Para o Barcelona, a Libertadores é um sonho e um desejo de coroar tudo o que fizemos. Jogaremos duas finais contra o Grêmio e nos sentimos muito perto da vaga. O nosso caminho na Copa foi duríssimo. Nos entusiasma a personalidade da equipe. Por isso, não se fala de outro assunto aqui em Guayaquil que não seja esse jogo
Alberto Alfaro Moreno
Diretor esportivo do Barcelona-EQU
Questionado sobre o orçamento do Barcelona para 2017, Alfaro diz que gira em US$ 90 milhões (R$ 285 milhões, contra R$ 320 milhões do Grêmio). Reconhece ser menor em relação aos brasileiros, mas é fora da curva nos padrões equatorianos. A folha salarial é segredo de Estado, mas o dirigente garante que estão no Estádio Monumental os jogadores mais bem pagos do país.
Uma parte dos recursos vem dos 20 mil sócios. O plano é chegar a 50 mil até o final de 2019, quando se encerra a gestão. Seria suficiente para lotar o Monumental, maior estádio do Equador, para 57 mil pessoas. Orgulho do Barcelona, o Monumental teve os naming-rights vendidos para o Banco Pichincha. Alfaro diz que já não há mais ingressos para quarta-feira. O bom momento do clube deixa a torcida em estado de graça.
- Para o Barcelona, a Libertadores é um sonho e um desejo de coroar tudo o que fizemos. Jogaremos duas finais contra o Grêmio e nos sentimos muito perto da vaga. O nosso caminho na Copa foi duríssimo. Nos entusiasma a personalidade da equipe. Por isso, não se fala de outro assunto aqui em Guayaquil que não seja esse jogo - diz Alfaro.