
Deixe-me falar algumas coisas sobre Fernandão. Coisas que ouvi e vi em uma única viagem, a mais importante delas, em 2006. Na saída de Porto Alegre, quando voava rumo ao Japão no avião do Inter, me acomodei numa poltrona ao lado da de Edinho, então um jovem em ascensão no futebol. Sempre bem humorado, sempre sorridente, Edinho lembrou das dificuldades do começo de carreira, quando foi enganado por um empresário e viu-se na Europa, sozinho, desempregado, com fome, zanzando por uma cidade onde não conhecia ninguém, exceto um homem: Fernandão. Pois Fernandão o acolheu como se fosse um pai, o ajudou como se fosse um irmão e fez com que ele recuperasse a confiança e a vontade de jogar futebol. Edinho disse considerar Fernandão um dos responsáveis por seu sucesso.
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Mais tarde, outros jogadores revelaram o quanto Fernandão era importante para o time não apenas no campo, mas dentro do vestiário. Durante as preleções dos técnicos, ele dava a sua opinião e, muitas vezes, o time fazia o que ele achava certo. Quando Joel Santana treinou o Inter, não era raro de se ver Fernandão se contrapondo delicadamente a uma instrução do treinador e perguntando, com diplomacia:
- Será que não seria melhor se fizéssemos assim?
Os outros jogadores já sabiam: seria melhor se eles fizessem assim.
E na véspera da decisão com o Barcelona, num dia cinzento de Tóquio, eu estava no saguão do hotel em que a nossa equipe da RBS e a delegação do Inter estavam hospedados quando fui chamado por um esbaforido José Alberto Andrade.
- Vem ver! Eles estão em reunião lá em cima!
Era uma reunião no quarto do centroavante Alexandre Pato. Estavam o próprio Pato, que nada falava, o técnico Abel, que mais ouvia do que falava, e mais os, esses sim falantes, Iarley, Clemer e Fernandão. Silvio Benfica encontrava-se ao lado da porta, ouvindo tudo. Ouviu quando Fernandão recomendou:
- Precisamos marcar a saída de bola deles. É importante fazer isso. Os volantes deles precisam ser marcados.
Foi o que aconteceu. O próprio Fernandão se encarregou dessa tarefa, até sair de campo extenuado no segundo tempo. Graças a ele, à sua consciência coletiva, à sua inteligência, ao seu caráter, o Inter se transformou no que é.
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