
Repete-se como tragédia a perturbadora certeza de que a Copa é também o período em que referências do futebol se despedem do mundo. Fernando Lúcio da Costa era uma destas referências recentes. Fernandão morreu na madrugada deste sábado, como se não tivesse nem idade suficiente para ser tudo o que foi. E foi.
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Com apenas 36 anos, este goiano-gaúcho já estava consagrado com as virtudes que técnicos, torcedores, comentaristas desejam de quem jogou futebol e continua sendo exemplo não só como craque. Morreu um atleta com qualidades raras nos campos brasileiros hoje - a inteligência, a capacidade de liderança, a imposição diante do adversário pelo refinamento técnico e pela dedicação intensa.
Morreu o capitão da maior conquista colorada. O moço goiano que realizou, em 2006, o que os descrentes consideravam improvável, que determinou como se enfrenta o assustador Barcelona. E que depois mostrou a um Beira-Rio lotado a taça da grande conquista. Ninguém exagera se disser que Fernandão ressuscitou o Inter num de seus piores momentos. O atacante com jeitão de boiadeiro chegou há exatos 10 anos a Porto Alegre.
Veio como uma aposta. Virou líder, capitão e amplificou tanto seu poder agregador que deixou de ser apenas uma referência de campo. Fernandão foi um caso exemplar de referência também fora do futebol. Pelo temperamento de diplomata, pelo envolvimento com a cidade, pela empatia com a torcida.
Em agosto de 2009, quando jogava no Goiás e criou-se uma controvérsia em torno de sua possível volta ao Inter, Fernandão fez declarações de amor não só ao clube, mas ao Estado. Gostava de Porto Alegre, do jeito gaúcho, da vida campeira:
- O que vivi aqui foi muito especial para mim e para o torcedor. Está na minha memória. Não é um objeto, algo material que se apaga ou se perde. Está no meu coração. E isso ninguém me tira nunca.
Acabou voltando, em 2011, como dirigente. Virou treinador em 2012. Submeteu-se, por temperamento, ao teste que muitos refugam. Se fracassasse, poderia manchar a própria história. Saiu sem que nada do que já havia sido fosse desfeito. Fernando era maior do que as desavenças que provocaram sua breve experiência como técnico.
Morre o cara que exaltava seu lado família, em fotos que se repetiam com a mulher, Fernanda, e os filhos, Enzo, Eloá e Thainá. Fernandão construiu assim a imagem do ídolo genuíno, sem a escora de esquemas de marketing, sem forçação, sem nenhum esforço para ser admirado.
Não cometerá nenhum exagero quem disser, como já disse o ex-presidente do Inter Fernando Carvalho, que Fernandão foi o maior ídolo colorado. E não cometerá nenhuma blasfêmia o gremista que assegurar, com a sinceridade de quem ama o futebol e seus craques, que Fernandão foi, sim, um ídolo de muitas torcidas. Os deuses de plantão nas Copas, que sempre nos levam tanta gente boa na época dos Mundiais, devem saber o que estão fazendo.
* zhEsportes