Senhor Abel Braga, não sei se lhe escapa a compreensão do tom de suas entrevistas coletivas ao final dos últimos jogos. Algum desavisado pode entender que o senhor está endereçando sérias e apropriadas críticas ao técnico do Inter. Mas não pode ser isso. Afinal, o senhor é o técnico do Inter, não é?
Quem ouviu as suas declarações sobre o modo ingênuo como o time sofreu os dois gols diante do Vitória, em Salvador, é incapaz de contrariar a sua inconformidade. Todos concordam que uma equipe que se considera concorrente ao título brasileiro não pode sofrer um gol como o que Richarlyson sacramentou. Mas, senhor Abel, também fica claro que suas palavras são endereçadas ao goleiro Dida, que calculou mal o lance e se viu encoberto pelo cruzamento despretencioso. E o Dida é o goleiro que o senhor, técnico do Inter, coloca em campo, acredito.
Talvez o senhor queira, por tabela, criticar-se. Talvez.
No segundo gol, sua explicação foi mais rebuscada. Justamente na hora em que o atacante alto do Vitória, o Dinei, estava fora de campo, três zagueiros não deram conta de um jogador de baixa estatura, o Marcinho. Não é possível divergir de suas cobranças. Trata-se de uma falha coletiva que consolidou a nova derrota no Brasileirão. Mas eu não entendi bem se o senhor também lamentou os problemas na execução do seu trabalho de técnico, como orientador do posicionamento da zaga. Devo acreditar que o senhor treinou exaustivamente, e ainda assim os jogadores têm falhado com uma frequência que o coloca irritado à beira do gramado.
Isso sem falar da suspeita de gol contra de Fabrício.
Havia ocorrido o mesmo ao final da virada aplicada pelo Figueirense, no Beira-Rio. O senhor nos brindou com uma análise correta sobre o terceiro gol, sofrido em contra-ataque, imaginem. Um time bem treinado e consolidado não pode sofrer estragos de contra-ataques alheio. Mas fiquei pensando se algum detalhe falhou no planejamento do sistema defensivo. Porque, pelo jeito que o senhor falou na coletiva, o seu trabalho de técnico estava acima dos erros.
E se os jogadores usassem da mesma franqueza nas coletivas? Fabrício, Paulão e Ernando alegariam carência de treinos nas bolas aéreas e falta de orientação do técnico na hora de explicar o segundo gol do Vitória? O goleiro Dida creditaria o mau posicionamento no primeiro gol de quarta-feira à qualidade dos trabalhos da comissão técnica?
Mas, afinal, a vida profissional não é um eterno repasse de culpas. E o senhor deve saber bem: é o senhor o técnico do Inter.