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Pela terceira vez

Inter x Juventude: jogadores relembram duas decisões que ficaram na história do Gauchão

Times decidiram o Estadual em 1998 e em 2008

Leandro Behs

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Em 2008, Fernandão decidiu para o Inter, fazendo três gols na histórica goleada por 8 a 1 no Beira-Rio

Inter e Juventude decidirão pela terceira vez o Campeonato Gaúcho. Será o desempate. Em 1998, deu Juventude, com direito a volta olímpica no Beira-Rio. Em 2008, o Inter com requintes de crueldade fez 8 a 1 na final. Com direito a gol de goleiro. Clemer fez de pênalti o oitavo gol. A terceira decisão entre os dois clubes ocorrerá uma vez mais com os jogos se iniciando em Caxias do Sul, com epílogo em Porto Alegre.

Em 1998, Juventude calou o Beira-Rio ao segurar o 0 a 0 e levar o troféu

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O atual técnico do Juventude, Antônio Carlos Zago, estava trocando o Corinthians pela Roma, enquanto que o treinador colorado Argel Fucks recém havia voltado do futebol japonês para o Santos, quando o Juventude de Flávio Campos, Lauro e Marcelo Mabília bateu o Inter por 3 a 1, no Alfredo Jaconi, no jogo de ida das finais de 1998. E precisava de um empate no Beira-Rio para ser campeão gaúcho pela primeira vez. Caso o Inter de Christian, Lúcio e Celso Roth vencesse, por qualquer resultado, provocaria um jogo extra.

– Sabíamos que tínhamos uma chance real de obter o título. Fizemos um grande jogo em Caxias do Sul. Tivemos uma atuação consistente, que nos igualava em forças ao forte time do Inter – conta Flávio Campos, volante e capitão daquele Juventude.

O Inter saiu na frente, com um gol de Christian, mas Flávio fez os dois gols da virada, que foi completada pelo volante Lauro.

– Jogamos muito bem em Caxias. O 3 a 1 foi um resultado justo. Mas sabíamos de que nada adiantaria se fossemos derrotados no Beira-Rio. O regulamento era diferente do atual. Vivemos um drama para segurar o 0 a 0, pois não queríamos disputar uma partida extra – recorda Flávio, que no ano seguinte ergueria a Copa do Brasil, outra vez como capitão do Juventude.

Em 1998, o time de Lori Sandri (técnico que morreu em 2014, aos 65 anos, devido a um tumor cerebral) tinha em Lauro um de seus principais jogadores do meio-campo. Com 572 jogos pelo clube, ele ajudou a construir a "touca" do Juventude em jogos contra o Inter – expressão surgida nos anos 1990, quando o time de Caxias do Sul impôs uma série de derrotas marcantes e eliminações aos colorados.

– Foi o momento para acontecer aquela conquista. Fizemos o resultado em casa, pois nos sentimos encorajados a ir para cima, virar o jogo. Tivemos um apoio muito forte da torcida – diz Lauro. – Depois, levamos uma pressão muito grande no Beira-Rio, mas conseguimos segurar, como ocorreu na Arena entre Grêmio e Juventude – emenda.

Lauro conta ainda que a expressão touca sempre o incomodou:

– A touca diminuía nosso mérito, nunca liguei pra isso. Nos preparávamos muito para jogar contra a dupla Gre-Nal. Era até uma maneira de jogar na Dupla depois, como ocorreu comigo, com Alex Telles e Bressan (todos contratados pelo Grêmio), por exemplo, ou com Índio, Michel Alves e Brenner (contratados pelo Inter).

Em 2008, novamente Inter e Juventude se cruzaram em uma final de Gauchão. Naquele ano, Argel e Antônio Carlos já haviam se aposentado. Argel treinava o Mogi Mirim, na sua primeira experiência na casamata, enquanto que Antônio Carlos Zago tirava um ano sabático, antes de assumir o São Caetano, em 2009.

E aquela foi uma decisão emblemática para os colorados. E, principalmente, para Fernandão. Na partida de ida, no Jaconi, ao melhor estilo Yokohama, ao final do segundo tempo, o Inter trocava passes e deixava os três minutos de acréscimos se esgotarem, a fim de garantir o 0 a 0 e levar alguma vantagem para o Beira-Rio. Aos 47min33seg, o capitão do Inter é pressionado por dois jogadores do Juventude e perde a bola para Ivo. Em 11 segundos, o atacante corre até a área e cruza na cabeça de Maicon, que faz o gol da vitória.

– Fernandão se cobrou muito cobrado por aquele lance. No vestiário, ele estava inconformado por ter errado no lance do gol do Juventude – lembra o zagueiro Danny Morais, convertido em volante por Abel Braga nas finais. – Eu e Fernandão concentrávamos nos mesmo quarto. Nunca havia visto ele tão aborrecido quanto naquela semana. Fernandão queria demais aquele título. Tanto é assim que, nos 8 a 1, o primeiro gol é meu. E ele sai correndo feito um louco para me abraçar na comemoração. Depois, ele ainda fez três gols no jogo – acrescenta Danny, atualmente zagueiro do Santa Cruz (PE).

A tarde de 4 de maio marcaria o final do Juventude como touca, além de ter sido o último título de Fernandão como capitão da equipe. Seis semanas depois, ele se transferiu para o Al-Gharafa.

Assim como na final contra o Barcelona, o Inter atuou com o uniforme branco. A camisa reserva havia se transformado em uma espécie de talismã da equipe, para decisões difíceis.

– O uso da camisa branca em finais foi algo que começou a vir desde o Mundial. Apesar da derrota no primeiro jogo, quando atuamos de vermelho, ninguém impôs a camisa branca para o jogo do Beira-Rio. Foi algo espontâneo – rememora o atacante Iarley.

Clemer acabou fazendo história naquele jogo. O oitavo gol, em um pênalti cobrado por ele, pulverizou o Juventude.

– Aquela foi uma semana diferente, onde fechamos ainda mais o grupo. Tínhamos consciência de que aquele título não poderia escapar. Ainda mais depois da forma que sofremos a derrota no jogo de ida. E esse espírito a gente conseguiu colocar em prática no campo – afirma Clemer, atual técnico do Sergipe. – O gol de pênalti foi uma situação de jogo, já tínhamos o placar garantido, e a torcida começou a gritar meu nome. Olhei para o Abel, ele autorizou, e pude fazer a cobrança. Mas foi algo circunstancial, sem intenção de humilhar ou menosprezar. Até porque não se consegue uma vitória daquelas sem respeitar o adversário – completa o ex-goleiro, que depois treinou a base do Inter e o time principal.

Para o volante Lauro, presente nas duas finais, a decisão de 2008 também foi marcante. Atuou com a camisa 500 às costas, em referência a seu número de partidas pelo Juventude. Aos 42 anos, Lauro recorda que a equipe treinada por Zetti estava engasgada nos colorados.

– Aquele jogo do Beira-Rio foi o quarto Inter e Juventude do Gauchão de 2008. Havíamos vencido os três anteriores (duas vezes por 1 a 0, além de uma goleada de 3 a 0). O Inter tinha um time muito superior ao nosso. Se eles pudesse fazer 20 gols naquele dia, fariam. Em 1998, voltei a Caxias em um carro de bombeiros, com todo o time festejando. Em 2008, voltei com colegas chorando a meu lado. Foi uma experiência marcante – atesta Lauro.

Agora, 18 anos depois da primeira final entre Inter e Juventude, caberá ao ex-zagueiro do Inter, Argel, e para o ex-zagueiro do Juventude, Antônio Carlos, liderarem os seus times para a conquista do Gauchão 2016.

E, 18 anos depois, como será a terceira decisão entre Inter e Juventude?

Flávio Campos
"O Juventude formou uma das melhores equipes dos últimos anos. É o Juventude mais encaixado dos últimos seis anos. Acho que há chances de título. Para isso, terá que fazer o resultado em casa, como foi contra o Grêmio, na semifinal. De preferência, sem sofrer gols em Caxias do Sul. O Juventude tem um poder aéreo muito forte. O Grêmio se perdeu ali. E o Inter também tem problemas na bola aérea."

Lauro
"A distância de qualidade dos times de 2008 era muito maior. Agora, o Inter é superior, mas aquela diferença foi reduzida. O Juventude melhorou bastante. Se o Juventude conseguir vantagem como a daquele ano (1 a 0, no Jaconi), já estará bem perto do título."

Danny Morais
"O momento dos dois clubes é diferente agora. Tem tudo para serem dois grandes jogos, torcerei à distancia pelo Inter, mas é inegável que o Juventude vem crescendo."

Clemer
"É inegável que o favoritismo fica do lado do Inter, pelo histórico dos últimos anos, e pela grandeza do clube. Mas muitas vezes isso não entra em campo. O Juventude já provou ao longo do campeonato a qualidade da campanha e do time e também tem condições de disputar este título."

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