Não basta ser o mais forte, o mais alto, o mais rápido. Para competir em esportes de alto nível no Brasil, é preciso entender um pouco de marketing pessoal e ser criativo na busca por dinheiro em canais alternativos ao patrocínio tradicional.
Cansados de bater às portas de empresas em troca de apoio para bancar a participação em competições, cada vez mais atletas vêm apelando a campanhas de doações pela internet e por redes sociais. A inspiração vem da única campeã olímpica no atletismo brasileiro. Maurren Maggi, ouro no salto em distância em Pequim-2008, recorreu ao crowdfunding (espécie de vaquinha na web) para manter os treinamentos visando aos Jogos do Rio. A meta era arrecadar R$ 100 mil. Encerrada no dia 13, a campanha recolheu R$ 44.483.
Há duas semanas, cinco esgrimistas da Sogipa também resolveram ir à luta. Com dificuldade de conseguir patrocinadores, o grupo lançou uma página de financiamento coletivo. O objetivo é juntar R$ 85 mil para cobrir custos de viagem, hospedagem e alimentação dos atletas para a disputa da Copa do Mundo de Esgrima, na Rússia, em julho. Sem visibilidade para atrair patrocinadores e com módica ajuda de custo do Ministério do Esporte _ as bolsas-atletas variam de R$ 950 a R$ 1.825 -, não é fácil duelar com florete, sabre ou espada pelas pistas de esgrima do Brasil. Somente com a indumentária (que incluem uniforme, jaqueta elétrica e máscara), os esgrimistas chegam a gastar R$ 6 mil. Uma espada custa cerca de R$ 600, e não resiste a mais de três meses de uso em treinos e competições.
Até as 17h de ontem, o site havia coletado R$ 1.145 em doações, ainda longe da meta estabelecida. Mesmo assim, Enrico Pezzi, 19 anos, atual líder do ranking nacional juvenil do sabre, só vê vantagens com a iniciativa:
- É melhor do que o desgaste de apresentar projetos de patrocínios às empresas e só ouvir "não".
Atleta lançou campanha de arrecadação em rede social
Aos 27 anos, a nutricionista Débora Finger está acostumada a se superar em provas combinadas de bicicleta e corrida. Desde abril, quando obteve a classificação para o mundial de duatlo em Pontevedra, na Espanha, a atleta de Novo Hamburgo teve de se desdobrar em outro desafio: juntar dinheiro para cobrir os custos da primeira competição internacional da carreira dela.
Com passagens e hospedagem de três dias no país ibérico, o orçamento bateu em R$ 5,5 mil. Não bastasse o investimento de R$ 8 mil com a bicicleta e equipamentos especiais, a atleta da equipe Gusch teve de tirar do próprio bolso até mesmo os R$ 570 da taxa de inscrição. Da Confederação Brasileira de Thriatlon, a gaúcha ainda espera receber o uniforme. E só. Com o apoio de patrocinadores, conseguiu pagar quase metade da viagem.
Para completar a verba, Débora decidiu passar o chapéu no modelo tradicional e também de uma maneira conectada aos novos tempos. Além de vender rifas, a atleta pediu doações pelo Facebook. Até segunda-feira, data prevista para o embarque, planeja conseguir entre 80% e 90% do total.
- Mesmo que nada dê certo, só o carinho de pessoas que eu nem conhecia já compensou esse esforço - diz Débora.
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