Peço, encarecidamente, que o Grêmio seja devolvido aos seus legítimos proprietários. Dirijo-me à parte da torcida e aos dirigentes que se apoderaram do clube nos últimos anos, ou com a alegação de uma paixão incondicional ou por uma falsa rotatividade entre grupos rivais na cúpula. Os dois contingentes alimentam uma crise de identidade prejudicial, até mesmo, à mobilização e aos resultados em campo.
Aquele amontoado de radicais que fica atrás da goleira Norte da Arena do Grêmio de repente se declarou com o monopólio da paixão azul. Pela dedicação, entusiasmo e loucura juvenil, creem que são os únicos a se emocionar com as jornadas, felizes e infelizes, da maior torcida do Estado. Mas não são. Suas atitudes estigmatizaram os gremistas com a pecha da intolerância e da violência, quando, em sua maioria, os tricolores não diferem de nenhuma outra torcida pelo Brasil afora. Nem um pouco mais santos ou demônios. A cada baderna, o Grêmio se desconhece, desmancha-se, porque menos pessoas se veem pertencendo àquilo.
Os que não são violentos entoam frases racistas e com sotaque castelhano. São gritos de incentivo refratários, ridículos, repetidos automaticamente pelo restante da plateia. Cansei deles. No recente jogo contra o Atlético-MG, por exemplo, a Arena do Grêmio estava vazia, então os cânticos ecoavam nítidos. Fiquei com vergonha a ponto de desligar o som da TV. São expressões infames, além de referências repetitivas ao segundo maior clube do Estado. Não representam a imensa maioria dos aficionados. O hino do Grêmio foi composto por Lupicínio Rodrigues, com um dos refrões mais belos entre os clubes brasileiros, então por que cantar com palavrão na boca, citar doentiamente o principal adversário ou dublar uma hinchada que não se é?
Esta torcida maldita cresceu com a proteção de uma sequência de diretorias omissas _ e daí se chega ao segundo fator de quebra de identidade. São senhores que dedicam a vida ao clube, admite-se, mas está na hora de uma potência como o Grêmio ser administrada por pessoas que entendam a modernidade do futebol e falem o idioma da ousadia. Não adianta trocar o técnico ou contratar falsos craques com pensamento mágico. Há inúmeros acertos recentes, é claro, até porque seria impossível errar sempre tendo um orçamento tão generoso. Mas os dirigentes gremistas não entusiasmam mais. Repetem-se, sonolentos. Qual deles é capaz de fazer lotar, no grito, a Arena, como em outros tempos faziam transbordar o velho Olímpico? A combinação entre uma torcida inconsequente e uma diretoria indolente e fria afastou o Grêmio de si mesmo. Quero-o de volta.
De segunda a sábado, a coluna De Fora da Área é um espaço para novas vozes sobre futebol e outros esportes em Zero Hora.
De fora da área
Opinião: Devolvam meu Grêmio
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