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Relíquia em casa

Ex-goleiro gremista guarda camisa 10 de Pelé

Picasso recorda partida contra o Santos no dia em que é são lembrados os 40 anos da despedida do Rei

Diego Vara / Agencia RBS
Picasso mantém há mais de 40 anos a mágica camiseta de Pelé, que lhe presenteou depois de ter feito dois gols no Grêmio

A camiseta que Pelé usou jogando pelo Santos contra o Grêmio no dia 12 de dezembro de 1973, no Pacaembu, se mantém intacta, toda branca e com leve amarelado na gola curtida pelo tempo. Às costas, o mágico 10 está solitário, sem o nome do dono, sem patrocínio, sem qualquer outra firula. Só o distintivo do S.F.C no peito e número atrás, em tecido de algodão, pesado e encorpado.

Com essa camiseta, Pelé marcou dois gols na goleada 4 a 0 do Santos sobre o Grêmio, penúltima rodada daquele Brasileirão. Desde então, ela pertence a Picasso, o goleiro que tomara aqueles quatro gols. Durante grande parte dos últimos 40 anos ela permaneceu como um troféu na casa de Picasso, na zona norte de Porto Alegre.

A camiseta é homenagem viva às quatro décadas da rumorosa despedida de Pelé no Santos, que se comemora nesta quinta-feira. Como acontece com os goleiros, Picasso não lembra dos gols do Pacaembu. Nem dos dois orgulhosamente sofridos com a assinatura de Pelé ao final de carreira. O que ele lembra é de como conseguiu a camiseta mais cobiçada da história do futebol.

Ex-companheiro de Pelé teve camisa 10 do Rei roubada

- Ele (Pelé) fez um ou dois gols? Só lembro dele vir em minha direção ao final. Havia gente no caminho, e ele me abraçou e trocamos a camiseta - conta Picasso.

Aconteceu assim: na entrada ao gramado do Pacaembu, o goleiro logo procurou Pelé e foi direto:

- Negrão, a gente se conhece há 10 anos, nunca pedi uma camiseta, você pode me dar o presente hoje?

Eles tinham certa intimidade. Havia muito se enfrentavam e trocavam mesuras nos jogos, desde quando Picasso começara em 1963 no Palmeiras e passara em 1967 pelo Juventus e jogara até 1972 pelo São Paulo.

Por sorte ou por azar, o goleiro enfrentou a época em que o apetite de Pelé ia parar nas redes, seja em campeonatos, torneios e em excursões de jogos caça níqueis a cada dois dias. Entre 1963 e 1972, Pelé marcara 602 gols!



Picasso não foi a maior vítima. Seu quinhão foi de raríssimos 10 gols em 25 confrontos no período. Quase nada. Mas se tornaram gentis adversários, além do convívio em seleções Paulista e Brasileira. Portanto, havia uma ligação pessoal quando Picasso pediu a camiseta. Pelé abraçou o amigo no gramado do Pacaembu e combinou procurá-lo ao final.

Antes, o Santos fez 4 a 0. Começou quando Pelé cobrou falta, e a bola passou por baixo do corpo do goleiro, aos 9 minutos de jogo. Faria outro, de pênalti, no segundo tempo. Aquela era a terceira vez que o santista cometia dois gols em Picasso numa partida.

Finalizada a goleada, Picasso correu para encontrar Pelé no meio de campo. Muitos outros saíram apressados para alcançá-lo e implorar pela camiseta. Era corrente a notícia da despedida do Santos nos próximos meses, e a cada jogo aumentava o clamor por uma 10 qualquer do Rei, que fosse branca ou listrada.

Ao apito final, Pelé procurou Picasso, entregou a 10 e pediu a do goleiro em troca.

- Foi uma surpresa quando ele quis a minha camiseta. Ele é assim, atencioso e generoso com os amigos - diz Picasso.

Dez meses depois, em 2 de outubro de 1974, aos 21 minutos do primeiro tempo, na derradeira partida contra a Ponte Preta, o Rei se ajoelharia no gramado da Vila Belmiro e abriria os braços aos quatro cantos do estádio num gesto derradeiro de despedida. No Brasil. Porque tempos depois, foi brilhar no Cosmos, dos Estados Unidos.

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