Claro que, aqui no RS, precisamos avaliar o resultado histórico de quinta-feira pela ótica dos colorados. Por isso, ZH deste sábado traz três páginas de análise sobre o momento do Inter. Mas vocês já pensaram no outro lado? O 5 a 0 é a maior vitória da história da Chapecoense. Provavelmente, um dos maiores momentos que Chapecó já viveu. Mas é inevitável perguntar: quando isso irá acontecer no nosso Interior?
Invejo que um time do interior catarinense tenha conseguido uma proeza como esta. Por que não acontece algo assim por aqui? O que falta para estádios como Centenário, Jaconi, Bento Freitas, Boca, Plátanos, Eucaliptos, Dapuzzo, Colosso da Lagoa, Vermelhão, Vale, Alviazul - ou qualquer outro afastado de Beira-Rio e Arena - viverem uma noite como a Condá viveu?
Não deveria ser muito. Mas é. E essa conformidade é o que incomoda mais.
Com cerca de 200 mil habitates, Chapecó é só a sexta maior cidade do estado vizinho. Tem o porte semelhante a Novo Hamburgo, Rio Grande, São Leopoldo, Santa Maria, Passo Fundo. É menor do que Pelotas e Caxias do Sul, por exemplo. Ok, seu PIB é bem superior ao destas cidades gaúchas. Mas sua tradição em futebol é bem inferior. Por isso, não é só o dinheiro produzido pelos habitantes da cidade que deveria contar nesta hora. Assim, o conjunto de ações do clube compensa a esta falta de cultura futebolística local.
Exemplo: a Chapecoense tem 10 mil sócios. O Brasil-Pel, algo em torno de 4 mil. O São Paulo-RG, 400.
A folha salarial da Chapecoense é inferior a R$ 2 milhões, cifra parecida com a que nossos clubes gastam para montar os times no Gauchão. Com resultados inexpressivos.
A única derrota do time titular da Dupla para o Interior foi do Grêmio para o São Paulo-RG. Como vi a festa que rolou na cidade depois daquele jogo, imagino o que a frequência de vitórias faria por aqui.
Uma vitória como a de quinta, na ótica catarinense, tem um valor inestimável para fidelizar o público de uma comunidade, que, segundo os próprios dirigentes, é formada por 90% de gremistas e colorados. Os milhares de guris que devem ter ido à Arena Condá pela primeira vez, guiados por um pai torcedor de Inter, Grêmio, Flamengo, Corinthians ou outra agremiação de fora criaram uma relação especial com a Chapecoense. A tendência é de que o time da cidade tenha arrecadado centenas de novos torcedores. Mesmo que eventualmente não tenha forças para seguir na Série A em 2015, o Brasileirão de 2014 já entrou para a história do clube.
Quando repetiremos o Brasil de 1985, o Juventude de 1999, São Paulo e Pelotas do início de 1980, Caxias de 2000?
Quando voltaremos para a história?
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