
Médicos, quando estão em férias, não reúnem os amigos na UTI do hospital para contar piadas, enquanto distribuem diagnósticos e prescrevem medicações, assim como professores passam longe da sala de aula na hora de descansar. Jornalistas exorcizam apurações e investigações nesse período. Correm para a praia ou a mesa de bar. Ou abre uma latinha de cerveja debaixo do guarda-sol: é preciso otimizar o tempo. Policiais não vestem farda e sobem o morro quando não estão trabalhando, nem engenheiros querem saber de alicerces e cálculos precisos. Só o jogador de futebol é que, depois de um ano reclamando do calendário massacrante e das viagens que o tiram da família, não dá uma semana da última rodada e já está na pelada com os amigos. O que tem uma compreensível explicação.
A gênese do futebol é a alegria. Nunca deixará de ser, mesmo no mais profissional dos campeonatos e sob a pior das pressões. Quantas profissões têm um instante tão intenso de satisfação e mistura de sentimentos como o gol? Mas se o time perde a torcida vaia. Os valentes das mídias sociais dão o seu show de má educação e intolerância - à distância, é claro. Estes só existem pelo protagonismo dos outros. Cada xingamento é uma confissão de inveja, mas isso fica para outro dia.
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O fato é que a pelada é o futebol em sua forma genuína, a alegria, a diversão, sem o império do resultado. Daí o vício pelos encontros de amigos e jogos beneficentes em dezembro. Lembram do Trianon?
Nunca houve experiência igual, na qual os jogadores vinham do mundo todo pagando do próprio bolso. A organização era feita de boca em boca, pelo simples prazer de rever amigos. Não era um acontecimento gaúcho. Vinha Zico, Roberto Dinamite, Ronaldo, Reinaldo. E Falcão, Renato, Dunga, Ronaldinho. Todos reunidos em torno do maior dos amigos: Nei, inventor do Trianon. O Nei não estava nem aí para patrocinadores e parceiros. Hoje, há algumas benemerências por aí que, francamente, mais parecem pretextos para vender uma transmissão. A solidariedade nem é o mais importante.
Pois entre o romantismo do Trianon dos anos 70 e a overdose de peladas a toque de caixa há o meio termo, está a estupenda iniciativa de D'Alessandro. Nos dias de hoje, não há como erguer um evento grandioso, com grandes craques que atraiam público, sem organização profissional. Não tem como: são deslocamentos, hospedagens, voos. Sem falar na divulgação e na transparência. As cinco entidades carentes gaúchas beneficiadas com a renda do Lance de Craque terão os repasses auditados. É o mesmo espírito do Jogo da Pobreza, criado por Zidane e Ronaldo, maior jogo beneficente de futebol do mundo, que em 2012 lotou a Arena na sua edição brasileira.
Diogo Olivier: Marcelo Grohe vai jogar amistoso no Beira-Rio
Por isso, no dia 27 de dezembro, além de estrangeiros e colorados, haverá gremistas no Beira-Rio entre os 30 nomes confirmados. Barcos, Marcelo Grohe e o ex-lateral-esquerdo Gilberto, identificadíssimo com o Grêmio, lá estarão. Assim como ex-jogadores da estirpe de Francescoli, Zanetti ou Ruben Paz. E de Gamarra, zagueiro eleito o melhor defensor do mundo na Copa de 1998 sem cometer uma falta sequer. No Inter, pegou a época de ouro do Grêmio, nos anos 90. Não ganhou títulos de expressão. Mesmo assim, entrou para a história do clube. Aos 43 anos, é gerente do Rubio Ñu, pequeno clube de Assunção, que ele e Arce devolveram à Serie A paraguaia. Que o Lance de Craque tenha vindo para ficar e inspire outras ações do gênero de seus companheiros de profissão. Porto Alegre agradece.
LANCE DE CRAQUE
O que: amistoso organizado por D'Alessandro
Quando: 27 de dezembro
Onde: Beira-Rio
Renda: revertida para AACD, Pão dos Pobres, Casa Aberta, Centro Social Padre Pedro Leonardi e Educandário São João Batista.
Ingressos: pelo site ingresso.com
Preços: inferior (R$ 40) e superior (R$ 20). Crianças de até 4 anos não pagam. Idosos, estudantes e crianças entre 5 e 11 anos têm 50% de desconto.
*ZHESPORTES