Está na edição online do diário Olé de 24 de dezembro, mas passou quase batido em meio à algaravia do Natal: nove técnicos argentinos brindarão o Réveillon como campeões na América. Isso mesmo, nove. Sem contar, é claro os promissores Marcelo Gallardo, 38 anos, e Diego Cocca, 42 anos, que levantaram a Sul-Americana com o River e o Transición com o Racing. Se colocarmos os dois, dá 11, um time inteiro de DTs, como os hermanos chamam os treinadores.
Os argentinos tomaram conta das casamatas do continente. Se contarmos apenas a América do Sul, cinco campeões nacionais foram comandados por técnicos hermanos. A próxima Copa América deixará ainda mais evidente esse domínio: além da Argentina, com Gerardo Martino. Outras três seleções terão conterrâneos de Maradona: o Chile, com Jorge Sampaoli, a Colômbia, com José Pekerman, e o Paraguai, com Ramón Díaz.
Essa lista pode aumentar. Os peruanos flertam com Ricardo Gareca, e a Bolívia tem como interino o ex-zagueiro Nestor Clausen. Assim, a lista pode chegar a seis - e só Uruguai, Equador, Venezuela e Brasil não teriam argentinos no comando. Se ampliarmos as fronteiras, veremos ainda mais pranchetas em azul e branco em ação. Simeone brilha no Atlético de Madrid, Marcelo Bielsa é incensado no Olympique de Marselha e Mauricio Pochettino busca o norte no Tottenham, da Inglaterra.
Tanto sucesso não se explica apenas por falar o espanhol. Há algo mais na prancheta dos vizinhos que falta aos nossos bem remunerados técnicos. Talvez comece pela necessidade de os gringos montarem times com orçamentos menores e tetos salariais sem pé direito. O dinheiro empanturrou técnicos, jogadores e dirigentes brasileiros. Deixamos de estudar, esquecemos de fazer intercâmbio.
Dentro de campo, fica claro que perdemos o último trem do futebol. Abusamos dos toques laterais, vimos poucos jogadores com consciência tática, ocupando espaços e correndo além do seu quadrado. Por isso, assistimos a poucos times atuando com velocidade. Os mineiros pareceram ser exceção com as conquistas da Copa do Brasil e do Brasileirão.
Nada contra os nossos técnicos. Mas precisamos avançar. Não pode mais ser notícia quando um treinador embarca para a Europa para ver jogos e assistir a treinos. Isso deveria ser quase curricular. Devemos sempre lembrar que deixaremos para trás no Réveillon um ano que levamos 7 a 1 da Alemanha e vimos o Nacional, do Paraguai, e o Bolívar, da Bolívia, chegaram à semifinal da Libertadores.
O futebol brasileiro precisa de novas ideias. A decisão do Inter de trazer o uruguaio Diego Aguirre é para ser saudada. Quem sabe ele não seja um sopro nessa estagnação em que se encontram nossos vestiários.