
Pelotas vai voltar a ser o centro da atenção no futebol brasileiro nesta quarta-feira. Na primeira fase da Copa do Brasil, o Brasil-Pel recebe o Flamengo, na reedição de um histórico duelo pelo Brasileiro de 1985.
Naquela partida, o time comandado por Valmir Louruz derrotou a equipe carioca, que tinha Zagallo como técnico, e o histórico meio-campo formado por Andrade, Adílio e Zico. O 2 a 0 (gols de Bira e Júnior Brasília) encaminhou a vaga do clube gaúcho às semifinais da competição.
Agora, a cidade sonha em repetir a história, depois de 30 anos
Ele ganhou
Hélio Vieira, ex-zagueiro
"A história mais louca daquele jogo foi depois que a partida terminou. Quando o Romualdo (Arpi Filho, árbitro) apitou, corremos para o vestiário, porque tinha invasão da torcida. O problema é que lá também já tinha torcedores, tentando levar nossas roupas, como recordação. Então, um cara me parou e pediu a camisa. Disse que não daria, era um presente da direção para nós. Pois ele me ofereceu um dinheirão para comprá-la. Pagou quase o que recebemos como bicho pela vitória. Não é que quase 20 anos depois, ele me encontrou em uma quadra de futebol e devolveu a camiseta? Queria muito lembrar o nome dele, para dar o crédito. Porque até hoje, essa é a melhor lembrança que tenho daquele jogo."
Hélio Vieira tinha 22 anos. Como ele mesmo se define, era um quebrador de pedra. Corria para os craques brilharem. E, para o ex-zagueiro, hoje técnico, essa harmonia das características dos atletas formou o grande time do Brasil-Pel. Por isso, quando fala sobre o jogo, mesmo passados 30 anos, garante: o resultado não foi tão surpreendente assim:
- Nosso time era muito bom. E muito valente. A gente sabia que dava para vencer. Não fizemos um jogo de exceção.
A confiança veio depois da partida de ida, disputada uma semana antes, no Maracanã, em que o Flamengo só saiu vencedor graças a um gol de Bebeto, de pênalti. E também de 1984, quando o Brasil já havia vencido o rival rubro-negro por 1 a 0: Chico Fraga marcou, de falta.
A memória daquela noite e algumas semelhanças da equipe de 2015 com a de 30 anos atrás dão esperança ao ex-zagueiro:
- Vejo que o astral da arquibancada tem contagiado esse time. Eles têm um temperamento muito bom. Vou ser sincero: acho difícil o Flamengo sair daqui vencedor. Se o Brasil mantiver a média de atuação, e torço para isso, dá para ganhar.
Ele perdeu
Andrade, ex-volante
"Brasil contra Flamengo? Em Pelotas? Não foi um jogo que o Júnior Brasília foi cruzar na área e encobriu o Fillol? Tenho essa lembrança. Não me recordo muito mais, mas esse gol me marcou."
Andrade era o volante do super Flamengo dos anos 1980. Era a base do meio-campo que saía quase automático: Andrade-Adílio-Zico-Tita. Marcador, esbanjava qualidade para sair jogando. Tanto que foi cinco vezes campeão brasileiro como jogador - e uma como treinador.
O então camisa 5 não se lembra do primeiro gol, quando o goleiro argentino e o zagueiro Mozer se atrapalharam, e a bola sobrou livre para Bira abrir o placar.
- Tivemos uma noite ruim. Deu tudo errado naquele jogo - lamenta.
Andrade tem razão. Além da falha dos dois no primeiro gol, o segundo, nos minutos finais, prova que seria um dia xavante. Júnior Brasília avança pelo lado direito e cruza. Fillol, que jogava adiantado para impedir ataques adversários, foi pego de surpresa. Mesmo sem lembrar de outros detalhes da partida, o hoje técnico do Jacobina reconhece a vitória dos gaúchos:
- Sei que para o Brasil é um jogo histórico, e fazer 2 a 0 no Flamengo da época era uma façanha. Nosso time raramente perdia. Foi surpreendente, estávamos no auge. É um grande momento mesmo, e eles têm que comemorar eternamente.