Inter e Grêmio ainda estudam se irão aderir às novas regras, definidas em Medida Provisória assinada no dia 20, para o refinanciamento das dívidas dos clubes com a União.
A conta não deve sair barata para a Dupla se decidir quitar, em parcelas, o que deve. De acordo com cálculo de Amir Somoggi, consultor independente de marketing e gestão esportiva, os pagamentos mensais poderão chegar a pouco mais de R$ 900 mil para o Grêmio e R$ 1,3 milhão para o Inter (veja os números dos clubes que mais devem no final do texto).
A análise do consultor, que toma por base os balanços financeiros de 2013, indica um rombo maior do lado vermelho: R$ 124 milhões. O Grêmio teria dívida fiscal de R$ 93 milhões. Somoggi lembra que os montantes devem crescer nos balanços de 2014, que serão levados em conta no programa. Nos valores, estão embutidos tributos, contribuições com a previdência e FGTS.
As novas regras permitem o financiamento em 120 a 204 meses, com juros calculados pela taxa Selic, que hoje é de 1,04% ao mês, mas há descontos na taxa como atrativo para os clubes aderirem. O governo trata os primeiros 36 meses como de "consolidação" do financiamento. As receitas são levadas em conta para calcular as parcelas - quem fatura mais, paga mais. Ao fim dos primeiros três anos, com a projeção de aumento do faturamento dos clubes, também crescem os valores das parcelas.
Somoggi duvida que as equipes optem pelo financiamento em 120 parcelas, já que os pagamentos mensais ficariam "pesados demais". Se escolher o parcelamento em 204 vezes, o Inter pagaria pouco mais de R$ 900 mil por mês nos primeiros três anos. No restante do período, o valor subiria para mais de R$ 1,3 milhão. Considerando a folha atual de R$ 12 milhões, os montantes variariam de 7,5% a 10,8% do que é pago de remuneração aos atletas.
Para o Grêmio, as parcelas ficariam na casa dos R$ 600 mil nos primeiros 36 meses, subindo para pouco mais de R$ 900 mil nos anos seguintes. A atual política de corte de gastos do clube tem objetivo de reduzir a folha a R$ 5 milhões. Assim, os pagamentos mensais da dívida variariam entre 12% e 18% do que ganha todo o elenco.
- Não são valores insignificantes. Os clubes brasileiros terão dificuldades para manter os pagamentos, ainda mais com a taxa calculada pela Selic, e não pela TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo, que hoje é de 0,45% ao mês), como os dirigentes queriam -avalia Amir Somoggi, consultor independente de marketing e gestão esportiva.
Os dois grandes clubes gaúchos empunham calculadoras e se debruçam sobre os números para saber se o refinanciamento vale a pena.
- Nós ainda estamos estudando esta MP, avaliando se o financiamento irá, de fato, amortizar a dívida, para depois decidir se iremos aderir. Estamos pagando cerca de R$ 500 mil ao mês para a Timemania e a dívida não diminui. Também estamos estudando a fundo este passivo, para saber como se chegou ao valor - destaca o vice-presidente de finanças do Inter, Pedro Affatato.
- A fase atual é de cautela. Estamos avaliando, especialmente diante das contrapartidas da MP, que vão além do que imaginávamos. Vamos aguardar, também, uma posição oficial da CBF sobre o tema - relata o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan.
Punição a clubes e dirigentes
O texto da MP prevê perda de pontos e até rebaixamento para os clubes que aderirem ao financiamento e não entregarem as contrapartidas. Enquanto alguns comemoram a possibilidade de punições esportivas, há quem considere improvável que elas se concretizem.
Os críticos apontam que a responsabilidade de administrar as punições é da CBF, o que as tornaria inviáveis. Nos bastidores, a entidade que rege o futebol brasileiro pressiona contra o Profut: ameaça com a possibilidade de a Fifa sancionar o Brasil por interferência do governo na gestão do esporte.
- O governo tem de se colocar como um credor nesta situação. É uma questão administrativa, de cobrança de tributos. Neste caso, não seria interferência - contesta Somoggi.
Quem defende a MP a vê como um passo importante para a democratização da gestão das entidades. E há quem dispense as sanções esportivas, preferindo a responsabilização individual dos dirigentes, também prevista no Profut.
- Essa é a sanção correta. A punição esportiva prejudica a todos, inclusive a milhões de torcedores do clube, e não somente a quem se atrapalhou na gestão financeira do clube - destaca Pedro Trengrouse, advogado e consultor especializado em legislação e responsabilidade social do esporte.
* ZH Esportes