
Em quatro meses, foram cinco jogos. Da primeira, segunda e terceira divisões. Confira.
Union Berlin 1x0 St. Pauli
26ª rodada da Bundesliga II (2ª divisão), 20/3/2015, Stadion An der Alten Försterei, Berlim
A quase uma hora do centro da capital alemã, em meio a um grande parque rodeado de árvores e bosques, fica o Stadion An der Alten Försterei, uma pequena e simpática arena com capacidade para pouco mais de 20 mil torcedores. O jogo começava às 18h30min, e cheguei faltando 10 minutos. Um erro. Havia fila para entrar devido à detalhada revista policial. "Fila" é modo de dizer. Na verdade, era um aglomerado de torcedores tentando ingressar rumo aos poucos lugares ainda vagos, todos em pé. Ainda assim, a confusão é zero. Há cerveja para todos os lados, e, novamente, muita fila, no intervalo, para ir ao banheiro e comprar bebida ou comida. O Stadion estava superlotado a ponto de as escadas serem totalmente ocupadas. Torcedores do St. Pauli se misturam aos do Union. Às 18h30min de uma sexta-feira, o jogo vira happy hour.
Futebol para alemão ver e aplaudir: uma experiência nas arquibancadas alemãs
Borussia Dortmund 0x1 Bayern de Munique
27ª rodada da Bundesliga, em 04/4/2015, Westfalenstadion, Dortmund
O que mais impressiona em um jogo do Borussia Dortmund não é apenas a imponência do Westfalenstadion e sua sempre completa lotação. É a multidão que toma conta das ruas da cidade antes dos jogos. Bares próximos ao estádio ficam cheios de gente. Diferentemente de um clássico contra o Schalke, os torcedores do Bayern se misturam em meio aos do Borussia. Vestem vermelho em mantas, camisetas, casacos, bonés e toucas. E não há estresse algum. Na famosa Gelbe Wand (a Muralha Amarela, setor onde 28 mil torcedores do Borussia ficam em pé, atrás do gol), é preciso ter cartão exclusivo para o acesso. Assim, os organizadores evitam a superlotação, o que pode causar sérios problemas. O jogo termina de forma amarga para os locais: 1 a 0 para o Bayern, gol de Lewandowski, o polonês que há até pouco tempo vestia amarelo e preto.
Borussia Dortmund 3x0 Paderborn
29ª rodada da Bundesliga, em 18/4/2015, Westfalenstadion, Dortmund
A superlotação dos arredores do Westfalenstadion não é exclusividade dos clássicos contra Bayern e Schalke. Em um jogo menor, como contra o Paderborn, ocorre o mesmo. A lotação é idêntica: sempre mais de 80 mil pessoas, e o programa faz parte do dia inteiro. Enquanto todos bebem e se divertem, é possível observar carimbos gigantes no chão de todo o estádio: Kein Bier für Rassisten. Em bom português: nenhuma cerveja para os racistas. Dortmund é reconhecida por ser uma cidade que abriga muitos neonazistas, e muitos deles já fizeram parte da torcida do Borussia, o que a maioria definitivamente rechaça com todas as forças, inclusive por meio de forte campanha institucional do próprio clube. Nesse jogo, fiquei em pé junto à grade, no setor da Muralha Amarela, a fanática torcida do Borussia.
Alemão para futebol ver e aplaudir: um giro pelas características dos estádios
Arminia Bielefeld 2x2 Holstein Kiel
35ª rodada da terceira divisão, em 02/5/2015, Schüco Arena
Uma tarde de sábado de sol e temperatura agradável de primavera, em Bielefeld, noroeste do país, proporcionou um jogo bastante interessante. Terceira divisão, é bem verdade, mas um estádio recentemente reformado, com capacidade para 26 mil torcedores, estava tomado pelas duas torcidas. A movimentação é toda do lado de fora, já que o acesso é rápido. Em uma arena pequena, não é preciso caminhar longas distâncias entre pátio e arquibancada (toda com cadeiras). Pizza, linguiça, cachorro-quente e batata-frita para comer. Para beber, cerveja e refrigerante. Nota ruim: quando o time da casa virou o jogo, a empolgação foi tamanha que uma jovem foi atingida por um copo plástico cheio de cerveja e precisou sair em busca de gelo. Teve o olho e parte da cabeça feridos. Lá, também há irresponsáveis. Em menor número, mas há.
Borussia Dortmund 3x2 Werder Bremen
34ª rodada da Bundesliga, em 23/5/2015, Westfalenstadion, Dortmund
O melhor jogo que assisti na Alemanha foi o que marcou a despedida do técnico Jürgen Klopp e do meio-campista Sebastian Kehl. Klopp estava no comando do Borussia desde 2008. Kehl foi capitão do Borussia de 2005 a 2014, e, aos 35 anos, aposentou-se do futebol. Foi daquelas partidas que são abertas e cheias de lances do início ao fim, com destaque para os goleiros, as traves e os contra-ataques. O Borussia fez 2 a 0 antes dos 20 minutos. O Werder Bremen descontou. Depois, 3 a 1, e 3 a 2. Ao fim do jogo, Klopp, Kehl e o resto do time ficaram quase meia hora em frente aos torcedores, no estádio, com uns agradecendo aos outros. Foi algo tão emocionante que os "durões" alemães se derreteram. Eram gerações inteiras lavando-se no choro, enxergando ali, naquele momento, ao vivo, o fim de uma era.