
É dos tubos cilíndricos de Teahupo'o, no Taiti, que podem surgir os surfistas que irão, de fato, disputar o título do circuito mundial de surfe até o fim deste ano. A etapa na Polinésia Francesa, que começa nesta sexta-feira e se estende até o dia 25 deste mês, pode mudar - e muito - o cenário do ranking mundial. No momento, é o brasileiro Adriano de Souza, o Mineirinho, que ocupa a ponta da lista. Mas a diferença entre ele e Kelly Slater (sexto colocado) é de 10 mil pontos. No mundo do surfe, a vantagem até pode ser considerada boa, embora plenamente reversível.
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Um exemplo matemático: caso o onze vezes campeão do mundo vença a etapa do Taiti, soma os mesmos 10 mil pontos, e certamente voltará de vez para a briga pelo título. Além disso, a diferença entre Mineirinho e o quinto colocado, hoje o australiano Owen Wright, é de menos de 5 mil pontos.
Edison Leite, o Edinho, editor-chefe da revista Fluir e comentarista da ESPN, acredita que, mantido o cenário, teremos um dos campeonatos mais emocionantes dos últimos anos.
- Eu vejo esse ano como um dos mais legais. Prefiro quando a história toda é definida na última etapa, em Pipeline (Havaí), com vários atletas tendo a chance de levar o título - observa.
Para Edinho, os brasileiros chegam ao Taiti com boas chances de vencer. Mesmo em um momento instável, Gabriel Medina é forte candidato. O atual campeão do mundo chega na "praia dos crânios quebrados", apelido dado ao local por causa dos corais afiados da bancada, como defensor do título - conquistado em cima de Slater no ano passado. Além de Medina, Edinho destaca a capacidade de Wiggolly Dantas, atleta especialista em ondas grandes e um dos estreantes no circuito. Outra aposta do comentarista é em Bruno Santos, que irá disputar a etapa depois de ficar ficar na segunda colocação da triagem. Santos é perito em tubos. O surfista, inclusive, já venceu no Taiti, em 2008. Ele e Medina são os únicos brasileiros com triunfos por lá.
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- Um cara pra ficar de olho é Bruno Santos, é um dos que mais conhece o pico. O Adriano (De Souza), que está na ponta e treina bastante por lá, é candidato. O Jadson André também pode surpreender. O Italo, apesar de nunca ter surfado lá, não pode ser descartado - aponta o jornalista.
Por ser considerada uma onda de consequência (quando o atleta corre risco de se machucar ao dropá-la) mais perigosa do circuito, surfistas mais rodados largam um pouco na frente. John Joh Florence, que volta de lesão, também é apontado pelo jornalista como um dos mais aptos a vencer.
- Kelly Slater, Mick Fanning, Joel Parkinson, esses caras sempre levarão vantagem em relação aos outros pelo profundo conhecimento da onda, já estiveram lá muitas vezes e conhecem os atalhos - pondera.
Segundo Edinho, a etapa taitiana vem ganhando muita força em termos de representatividade. Teahupoo, para ele, é o novo Pipeline. Isto é: todo atleta quer vencer, e o que vence, é muito prestigiado.
- Claro que Pipeline continua sendo Pipeline. Mas Teahupoo é uma onda muito desafiadora - assinala.
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Previsão é de tubos menores
O portal Surfline, empresa que fornece os prognósticos de ondulação para a World Surf League (WSL, na sigla em inglês), entidade que organiza o campeonato, não projeta a chegada de grandes ondas durante o período de disputa. Bem diferente da última edição, considerada "épica" pelo tamanho e pela frequência com que as ondas estouravam na bancada. Frustrante para alguns, a projeção de um swell de tamanho médio, no entanto, pode colaborar para uma um acirramento do campeonato - e até mesmo aumentar a gama de atletas postulantes à vitória.
A definição das datas das etapas é feita com bastante antecedência. Geralmente, no mês dezembro do ano anterior. O modelo de escolha pode causar um problema grave para o espetáculo: a falta de ondas consistentes e condições dignas de cada local. Só neste ano, três etapas (das seis ocorridas até agora) ficaram bem abaixo do esperado em termos de ondas: Jeffrey's Bay (África do Sul), Gold Coast (Austrália) e Rio de Janeiro (Brasil). Teahupoo, ao que parece, caminha para o mesmo destino. De acordo com Edinho, isso prejudica a qualidade do campeonato, embora não haja outra saída:
- Você tem um calendário fixo, com as etapas já vendidas para patrocinadores, com canais de televisão que compraram o direito de transmitir. Não há muito o que fazer em relação a isso, faz parte do espetáculo.
Para ele, o grande entrave é outro: o número de atletas. Hoje, cada etapa tem duas rodadas sem perdedores, o que toma praticamente um dia a mais de competição. Exige, consequentemente, um dia a mais de boas ondas. Se diminuíssem a quantidade de participantes, o número de dias com necessidade de ondas surfáveis poderia diminuir. E beneficiaria a competição - garante.
- O sistema que a WSL usa não faz a natureza nos ajudar. Precisa de quatro dias de competição, e é muito difícil que se tenha quatro dias de ondas boas em um intervalo de doze dias. Dois dias pode até ter. A entidade terá de rever isso - explica Edinho.
Primeira etapa pós-tubarão
A última etapa, na praia de Jeffreys Bay, na África do Sul, terminou de forma inesperada: durante a final contra o conterrâneo Julian Wilson, Mick Fanning foi surpreendido por um tubarão-branco que se enroscou na corda que prende a perna do atleta na prancha. A cena (veja o vídeo acima), transmitida ao vivo para o mundo todo, foi desesperadora: Fanning e o animal se debateram, até que o tubarão se desvencilhou e saiu. O atleta ficou ileso. Foi a primeira vez que um ataque ocorreu em uma competição desse porte.
Após o episódio, a WSL garantiu que tomará providência para preservar ainda mais a segurança dos competidores. Além de outras medidas que estão sendo estudadas, no próximo ano, serão colocados mais dois jet skis dentro do mar. A ideia é ampliar a fiscalização no entrono da área de competição, especialmente na África do Sul. Acaba com o risco de surgir um tubarão? Certamente, não. Em um esporte praticado no mar, não há como escapar de possíveis surpresas. Mas há como prevenir.
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-Tudo que pode ser feito, já foi feito. Jeffrey's Bay já tem um protocolo específico de tubarão. Mas não existe nada cientificamente provado que defenda os caras que estão lá dentro. Existe uma aparelho que identifica a aproximação de um tubarão por campo magnético. Mas aquilo é pesado, nenhum atleta vai querer competir com aquilo. E é algo caro - reflete Edinho.
Embora com menos incidência, Teahupoo é um local onde há tubarões. Mas não existe nenhum registro de ataque no local.
Veja os enfrentamentos do primeiro Round:
1) Kelly Slater (EUA) x Jadson Andre (BRA) x Brett Simpson (EUA)
2) Owen Wright (AUS) x Adrian Buchan (AUS) x C.J.Hobgood
3) Filipe Toledo (BRA) x Keanu Asing (HAV) x Aritz Aranburu (ESP)
4) Julian Wilson (AUS) x Sebastian Zietz (HAV) x Garrett Parkes (AUS)
5) Mick Fanning (AUS) x Adam Melling (AUS) x Taumata Puhetini (AFR)
6) Adriano de Souza (BRA) x Michel Bourez (TAI) x Bruno Santos (BRA)
7) Nat Young (EUA) x Kai Otton (AUS) x DustyPayne (HAV)
8) Taj Burrow (AUS) x Joel Parkinson (AUS) x Glenn Hall (IRL)
9) Josh Kerr (AUS) x Matt Wilkinson (AUS) x Kolohe Andino (EUA)
10) Italo Ferreira (BRA) x Gabriel Medina (BRA) x Ricardo Christie (NZL)
11) Bede Durbidge (AUS) x John John Florence (HAV) x Freddy Patacchia Jr. (HAV)
12) Jeremy Flores (FRA) x Wiggolly Dantas (BRA) x Miguel Pupo (BRA)
Conheça os últimos 15 campeões da etapa do Taiti (fonte: datasurfe.com.br)
2014 - Gabriel Medina
2013 - Adrian Bunchan
2012 - Mick Fanning
2011 - Kelly Slater
2010 - Andy Irons
2009 - Bobby Martinez
2008 - Bruno Santos
2007 - Damien Hobgood
2006 - Bobby Martinez
2005 - Kelly Slater
2004 - C.J. Hobgood
2003 - Kelly Slater
2002 - Andy Irons
2001 - Cory Lopez
2000 - Kelly Slater