Durante muitos anos, o Brasil conviveu com o mito da "Democracia Racial", desmascarado ano passado por um relatório da ONU que apontou que, por aqui, o racismo é institucional. Acreditávamos nesse mito mesmo que casos de racismo fossem se somando ao longo do tempo.
Iludíamos-nos em pensar que eram incidentes esporádicos e que, cada um deles, nos levariam a discutir o tema e acabar com essa praga que tanto macula a sociedade brasileira, mas não. Hora ou outra, um novo caso de discriminação racial envolvendo alguma personalidade ou atleta volta a acontecer e choca a sociedade. Mas o que é feito na prática?
Ano passado, o esporte brasileiro, mas precisamente o futebol, sofreu com inúmeros incidentes, houve encontro com a presidente da República, ações de clubes e federações, mas na prática nada foi feito. As leis desportivas continuaram as mesmas, e as punições aos envolvidos foram exceções. Sendo assim, este ano os casos continuaram a acontecer e não apenas no esporte mais popular do país, mas também na ginástica e no vôlei. O Brasil, que sempre fez questão de distorcer e amenizar a história da escravização dos africanos e a extrema desigualdade social que separam negros e brancos no país com a maior população de negros fora da África, precisa repensar suas leis e ações de combate ao racismo.
Clubes, federações e demais entidades precisam estar atentas para os incidentes que acontecem no esporte, pois estes geralmente têm extrema repercussão. Sinalizar para a sociedade que estes crimes não são punidos constitui sério retrocesso à própria contribuição que os atletas negros deram à democratização das relações sociais no esporte e à construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
O esporte que sempre foi um importante instrumento de inclusão social precisa se ver livre dessa praga que tanto macula nossa sociedade. E servir de exemplo e de instrumento de luta contra a discriminação racial. O que aconteceu com a jogadora Fernanda Isis (torcedores do Araraquara gritaram ofensas racistas para ela), do Bauru, na quarta-feira, 7 de outubro de 2015, precisa de uma indignação maior da sociedade, da mídia, das autoridades, mas principalmente dos atletas que sofrem esse tipo de agressão.