
Algum sábio estudioso do assunto já sentenciou: nada pode ser pior para um time de futebol do que um jogador ruim e participativo.
Certos atletas quebradores de bola são admirados por seus treinadores porque cumprem com excelência suas funções táticas. Ok, ainda que contrariado, isso eu aceito. O que custo a entender é a predileção que alguns técnicos cultuam por jogadores ruins e que quase sempre estão perdidos em campo. A esta seleta classe de boleiros, o grande público costuma dar o nome de "polivalentes".
Nunca vi um craque polivalente. Pelé nunca foi escalado na lateral-direita. Romário jamais jogou de volante. Zidane não teria sido um grande zagueiro. A monovalência é, perceba, um atributo básico para ser craque. Quanto mais polivalente for um jogador, mais distante ele estará da perfeição – o futebol é improviso e inventividade, mas também é repetição. No final da década de 1990, o Grêmio de Celso Roth celebrizou um jogador chamado Itaqui, que teoricamente jogava como lateral-direito. Teoricamente, porque em pouco tempo ele passou a volante e, perdoem-nos os deuses do futebol, logo virou camisa 10. Ainda bem que o Celso Roth logo caiu, ou o Itaqui teria virado centroavante, tenho certeza.
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Mas os treinadores de futebol são uma classe gozada, mesmo. Dia desses, o Grêmio enfrentou o San Lorenzo no lendário Nuevo Gasómetro com dois polivalentes em campo: Marcelo Oliveira, que é zagueiro, volante e lateral-esquerdo, e Ramiro, que é volante, meia e lateral-direito. É claro que não poderia dar certo: se um polivalente é muito, imagine qual tragédia não se abateu sobre a produtividade do Grêmio com dois multifuncionais atuando juntos em um mesmo sistema defensivo.
No confronto na Argentina, o volante Maicon recebeu suspensão e está fora do próximo jogo, contra a LDU. E quando sufocado pelo adversário, o técnico do Grêmio já provou que muda suas peças, mas não sai sob hipótese alguma da caixa: o 4-2-3-1 é uma convicção irrevogável de Roger, o Guardiola dos Pobres, e este será o seu esquema no Equador.
O polivalente Ramiro deverá substituir, portanto, Maicon em Quito. Se este erro se confirmar, a Libertadores poderá estar acabada para o Grêmio. Porque todo polivalente é participativo. E o pior que pode acontecer a um time de futebol, acredite, é um ruim participativo.
*ZHESPORTES