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Cloaldo Amaral Filho: o futebol e o corpo  

Especialista em Educação Infantil alerta para os problemas causados pelos hábitos e características da infância contemporânea

Depois do vexame na final da Copa de 2014, todos foram atrás das possíveis causas.

Foram apontados vários "culpados" por essa situação: Fifa, CBF, empresários, treinadores defasados, má formação nas categorias de base, jogadores mercenários, descontrole emocional entre outros. Todos esses elementos têm, em conjunto, uma parcela de responsabilidade.

No entanto, há um outro fator, a meu ver mais importante e anterior a esses todos, que não ouvi em nenhuma avaliação: as características da infância contemporânea. A infância, de alguns anos para cá, vem convivendo com um afastamento do corpo, de proporções alarmantes. Quem observa vê os resultados em várias áreas como a obesidade infantil e os problemas emocionais.

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O futebol é um esporte corporal. Em todas as classes socioeconômicas, vemos crianças cada vez menos brincando com o corpo (a semente da aprendizagem esportiva). Nas populações menos favorecidas, não há espaços, orientação e materiais adequados. Nas classes com mais recursos, não há tempo nas agendas da criança, onde há outras prioridades. Ou seja, essas práticas se desvalorizaram. As alternativas são jogos eletrônicos ou o ócio.

Nesse contexto, o corpo da criança passa a não responder adequadamente aos estímulos, pois não desenvolveu as ferramentas necessárias para isso. Assim, aprender alguma modalidade esportiva – como o futebol – torna-se difícil e desestimulante. O que faz uma criança brincar é alguma motivação. Dentro desse quadro, a criança que não consegue jogar bem tende a se afastar. Como não tem prazer nessa prática, busca outras alternativas, sem que o corpo esteja envolvido.

Assim cria-se um círculo vicioso: como não consegue, não gosta. Como não gosta, não pratica. Como não pratica, não evolui. Como não evolui, não se motiva. Seu futuro, em relação ao esporte, é ser um consumidor: vai no estádio, compra camiseta, torce por seu time, assiste pela TV, mas não joga (não brinca). Ora, se essas características vêm afetando a infância de todos, também a da grande maioria dos jogadores profissionais do Brasil.

Para reverter esse quadro, há que se valorizar novamente as brincadeiras corporais colocando cérebro e corpo em harmonia. Assim, poderemos sonhar em, no futuro, termos mais jogadores acima da média, como em outros tempos.

*ZHESPORTES

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