
De posse dos números oficiais dos balanços de Grêmio e Inter, o consultor paulista Amir Somoggi, um dos maiores especialistas do Brasil em gestão e futebol, analisou a saúde financeira dos dois clubes. Abaixo um resumo da minha conversa com Somoggi:
Em tempos de crise, como você analisa o momento financeiro da dupla Gre-Nal?
A Dupla sofreu o impacto do Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro) e, graças a isso, ambos receberam descontos nas dívidas fiscais, que entraram como receitas financeiras. O Inter aumentou seu superávit em R$ 41,1 milhões. O Grêmio amenizou os déficits em R$ 40, 5 milhões. Ambos cresceram os custos com futebol.
O que você diz do Grêmio?
As receitas caíram. Os custos aumentaram. As receitas com sócios e patrocínios caíram. Em 2015, o futebol consumiu R$ 193 milhões, superior às receitas. Mesmo com o Profut, fechou com pesado déficit. Em cinco anos, as perdas acumuladas são de R$ 119 milhões. A dívida do clube subiu 11% e atingiu R$ 422 milhões. As dívidas fiscais caíram 14% e são de R$ 82,1 milhões.
E o Inter?
O crescimento das receitas foi por conta do aumento das transferências de jogadores e também do novo dinheiro da TV, por conta das luvas. O clube ampliou seus ganhos com sócios e bilheteria, mostrando que a plena utilização do novo Beira Rio foi positiva. O clube fechou com superávit de R$ 27,6 milhões, frente aos déficits em 2014 de R$ 49,1 milhões. Essa melhora está diretamente associada aos descontos recebidos do Profut. A dívida caiu e está em R$ 282 milhões. Uma parte deve-se diretamente à redução das dividas fiscais com queda de 33%, que somam R$ 85 milhões.
E futuro dois dos grandes clubes do Rio Grande do Sul? Qual a avaliação?
O Grêmio precisa de forma urgente resolver a questão da Arena para ingressar novos R$ 20 milhões, R$ 30 milhões, R$ 40 milhões em bilheteria e normalizar a situação. Para ter sustentabilidade, precisará manter os custos mais ajustados. O Inter deve resolver de uma vez por todas se é um clube ou apenas um vendedor de atletas com porcentagens nos negócios. O clube poderia estar muito melhor se não gastasse tanto com participação em direitos econômicos. Aumentar os ganhos de Beira Rio será um desafio. Ambos gastam muito, mas os resultados e a performance são fracas.
Como os dois clubes gaúchos se comportam no cenário nacional, numa relação com os outros grandes clubes brasileiros?
Precisam sair de sua esfera regional, mas terão extrema dificuldade de conquistar espaços nacionalmente. A saída para dupla Gre-Nal é a internacionalização efetiva e concreta de suas marcas. Deixando para trás clubes com mais torcidas, mas mais desorganizados.
Sobre os custos de futebol, citado acima, Amir Somoggi fez uma correção depois que a entrevista foi publicada. Seu texto está abaixo.
"Na prática é uma discussão de metodologia.O Inter considera dedução da receita bruta em uma classificação no balanço. A visão é vende o jogador e na hora já paga os valores acertados em contratos. É um custo logo na primeira linha de deduções da demonstração do resultado do exercício. Fora dos custos com departamento de futebol.Os demais clubes do Brasil incluem esses custos de participação em direitos econômicos nos custos do futebol, que é o correto. Já que os jogadores vendidos entraram integralmente como receitas do futebol. Há mais de uma década faço o mesmo para o Inter. A questão é que em 2014 o valor foi baixo e por isso não chamou atenção do clube.Eles reduziram os custos operacionais do futebol, mas quando analisam indicadores usam a receita total, consideram as receitas brutas, sem deduções. Não pode. Para fazer como fazem as transferências deveriam ser registradas pelo líquido, R$ 39 milhões, reduzindo e muito as receitas".
