
Por incrível que pareça, futebol é simples. Se fosse encarado só como esporte, confesso, não veria muita graça. O que me abate é a paixão exacerbada. Quando mesmo ficou determinado que torcidas rivais no campo deveriam ser inimigas mortais fora dele? O nosso Estado é pródigo em ter dois lados.
Foi assim nas revoluções fratricidas que nos dividiram em chimangos e maragatos, farroupilhas e imperiais e, agora, em petralhas e coxinhas. Mas futebol, convenhamos, não é nenhuma revolução. Ao contrário, é a mais pura tradução de paixão e entretenimento saudáveis.
Fico horrorizado quando vejo cidadãos de bem comprando causas absurdas e indefensáveis para defender seu clube.
Se critico um árbitro que errou contra o meu time, não tenho nenhuma reserva em elogiá-lo se o erro foi a meu favor?
Chega-se ao cúmulo de colocar em dúvida a lisura de membros dos tribunais de justiça desportiva pelo fato de serem torcedores de A ou B. Claro que são! E isso não os impede de exercerem suas funções com lisura e técnica jurídica.
Parece que todos estão sob suspeita. A ânsia por descobrir maracutaias joga no lixo o preceito constitucional de que "todos são inocentes até que se prove em contrário". Até que se prove!
Crise de parcialidade
No futebol, isso tem de acabar. Ou voltamos a nos divertir com ele ou teremos mais uma decepção a nos atormentar. Sou colorado até debaixo d'água, mas se a água for podre, não tenho como dizer que é potável. Vivemos uma crise de parcialidade. Isso não é bom.
*Diário Gaúcho