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Há muitos motivos para falar de Lionel Messi um dia depois de ele completar 29 anos com oito ligas espanholas, quatro Champions, três mundiais de clubes, quatro copas do rei, uma copa Audi, um ouro olímpico, cinco bolas de ouro e cinco (ufa!) chuteiras de ouro no currículo. Neste domingo, La Pulga pode iluminar esta impressionante sala particular de troféus erguendo o seu primeiro pela seleção principal da Argentina. Restará só uma Copa do Mundo.
O roteiro da Copa América está escrito: torneio centenário, nos Estados Unidos, estádios abarrotados, repercussão global, final em Nova York, o planeta antenado. Falta só os deuses do futebol rubricarem o epílogo do conto de fadas contra o Chile. Mas sabe como são os deuses. Eles aprontam. E sempre pode aparecer um Sandro Meira Ricci no apito e estragar tudo. Torcerei muito por Messi. É um gênio, líder do time que melhor futebol apresentou.
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Mas o mais importante de um triunfo hermano é o que ele anuncia para o Brasil. Se der Argentina, há uma saída para o buraco em que a Seleção Brasileira se meteu nesses dois anos perdidos, até buscarem Tite para tirá-la de lá. Vou além: mesmo que dê uma zebra, e o Chile conquiste o bi neste domingo à noite, ainda assim a Argentina pode ser uma clarão de esperança. E, na luz, sempre se abre um caminho.
O futebol argentino não é diferente do brasileiro em termos de organização. A AFA é um sultanato, assim como a CBF. Não tivesse morrido, Julio Grondona estaria fechando 37 anos no trono. Seu sucessor, Luis Segura, foi deposto ontem pela Fifa. Até deixou a delegação nos EUA. Lá, como aqui, chovem índicios de participação em propinodutos e fraudes eleitorais de seus cartolas. Um arcabouço de leis os faz se perpetuarem no comando sob o falso manto de legalidade. Não há ligas de clubes, como em qualquer país evoluído. Os jovens talentos saem cada vez mais cedo. Messi foi embora aos 14 anos.
Os clubes estão numa pindaíba, como os nossos. A TV paga um terço dos direitos de transmissão do Brasil. A média de público dos torneios Inicial e Final é superior, mas nem tanto assim: 21 mil contra 17 mil do Brasileirão, em 2015. Na estrutura, a Argentina é bem pior. Os estádios, com boa vontade tirando o Ciudad de La Plata, casa do Estudiantes e do Gimnasia y Esgrima, construído em 2003, são velhos e obsoletos. Inclusive o Monumental de Nuñez e a mítica Bombonera. No Brasil, as novas arenas deram um sopro de modernidade no campo de jogo. Por que, então, a Argentina desatou a jogar bem e com prazer de uma hora para outra, inclusive com Messi dando show?
Na Copa de 2014 não houve nada disso. Foi um vice morno. Na primeira fase, suou sangue para vencer o Irã por 1 a 0, no finzinho. Nas oitavas, precisou de prorrogação para eliminar a chatice suíça. Nas quartas, 1 a 0 magro e sorte contra a Bélgica. Na semifinal, só nos pênaltis diante de Holanda. Mesma Holanda que nem se se classificou para a Eurocopa, em disputa na França. Agora Messi toca muitas vezes na bola e empilha gols, em vez de ficar assistindo aos lançamentos longos e a ênfase defensiva de outrora.
A seleção argentina agora quer a bola. Joga. Aproxima. Troca passes. Banega não erra um, aliás, ele e Mascherano. Os laterais passam. A geração é boa. Higuain, Di Maria, Aguero, Lavezzi. Mas, tirando Messi, que é de outro planeta, os outros são terráqueos como os nossos. Mudou um personagem: o técnico. Saiu Alejandro Sabella; entrou Gerardo Tata Martino. Não é o que acaba de acontecer na troca de Dunga por Tite?
Este assumirá na pressão, no fundo do poço, ao contrário de Tata Martino. Talvez seja a única diferença. Para melhor, sob certo aspecto. Qualquer melhora será saudada como nirvana. Pois se um novo treinador deu tão certo com os mesmos jogadores na Argentina, em um cenário estrutural até pior do que o nosso, há de funcionar por aqui. Se nós temos o 7 a 1, eles não ganham nem canastra há 23 anos.
A Argentina é o Brasil na Copa América. Que tal copiar os hermanos? Já que tudo se dará na terra de Obama: sim, é possível. Nós podemos ser vocês amanhã. Mesmo sem um Messi na nossa vida.
*ZHESPORTES