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Em Medellín

Destroços, lama e objetos dos passageiros formam o cenário da tragédia da Chapecoense 

Avião que levava delegação da Chapecoense caiu em uma área cercada por cerros altos, na localidade de Cerro Gordo, no município de La Unión

Rodrigo Lopes - direto de Medellín

Bruno Alencastro / Agencia RBS

Uma pasta verde de papel com o distintivo da Chapecoense. Um microfone com a canopla da Fox. Uma Bíblia. Entre poltronas reviradas e ferros retorcidos, os objetos encravados na lama do Cerro Gordo, arredores de Medellín, são sinais esparsos de vidas que não existem mais.

O cheiro de combustível ainda é forte no local da tragédia, mais de 12 horas depois do acidente. Da aeronave, sobraram dois grandes pedaços – a parte central e uma das asas. O resto é escombro.

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Zero Hora chegou ao local do acidente, uma parte baixa entre vários cerros altos, às 17h20min (20h20min em Brasília). Anoitecia, e as equipes de salvamento foram substituídas por uma guarnição da Polícia Nacional. Para alcançar a clareira aberta pelo avião gasta-se uma hora de carro, a bordo de uma picape.


Depois, para continuar, só a pé. São mais 45 minutos de caminhada, no sobe e desce do terreno, em meio ao barro. Ao final do trajeto, uma última subida e a visão do horror à frente. Em uma baixada, a cerca de 100 metros, o branco do metal da cabine se destaca entre o verde da vegetação e a escuridão da lama.

Só chegando mais perto é que, aos poucos, identificamos o que era a parte maior do pedaço da cabine. É quando o cheiro de combustível se torna mais forte. Cinco militares da Polícia Nacional guardam os escombros, tentando manter à distância um grupo de curiosos, entre eles algumas crianças.

– Distância! Distância! Se chegarem perto, vou ser obrigado a usar gás – gritava um dos policiais.

Dada a dificuldade de acesso, é possível imaginar o drama enfrentado pelas equipes para resgatar os corpos das vítimas e fazer o traslado dos sobreviventes na madrugada. A cada 10 minutos, aviões comerciais voam baixo, indicando que, bem acima de nós, fica a rota de pouso no aeroporto de Medellín.

Bruno Alencastro / Agencia RBS

O avião com a delegação da Chapecoense estava a poucos minutos do destino.É esquadrinhando o lamaçal que nos confrontamos com os resquícios do que foram as vidas ali perdidas: a pasta verde, o microfone e a Bíblia... Um policial aponta para uma mochila aberta, onde está o passaporte de um dos passageiros.

Há roupas espalhadas pelo chão e um livro cujo titulo lê-se apenas Jesus, com capa plastificada.La Unión, zona urbana mais próxima do local da tragédia, fez jus ao nome nesta terça-feira que a Colômbia e o Brasil se uniram em um só choro. Uma rede de solidariedade se formou desde o início da madrugada no vilarejo. Moradores abriram suas residências para soldados que retornavam dos destroços. Concediam água, local de descanso e até comida.

Nas poucas casas entre o vilarejo e a clareira aberta pelo avião, quem tinha algum tipo de meio de transporte passou a auxiliar as equipes de salvamento. Os moradores, na maioria agricultores que cultivam flores e produzem leite, pegaram seus tratores, motocicletas e picapes para ajudar.

Moradora de povoado cedeu seu quintal para os primeiros socorros

Aldemar Cardona, 52 anos, sentiu tremer as paredes da casa, a cerca de 10 quilômetros do local da queda do avião. Na sequência, vieram as viaturas do corpo de bombeiros e ambulâncias.

Passaram-se 30 minutos, e ainda assim, mesmo com aquele movimento atípico, não sabia que sua casa viraria epicentro de equipes de resgate, policiais e jornalistas de várias partes do mundo. Só depois, perto da 1h da manhã (4h em Brasília), pelo rádio, é que ouviu as notícias.

Bruno Alencastro / Agencia RBS

– Estamos todos muito tristes – disse, com os olhos vermelhos de quem havia dormido pouco.

Alba Serna, 46 anos, mora bem ao lado da estrada de barro que se tornou a rota da salvação para poucos. Por ali, foram resgatados os primeiros sobreviventes. No fundo do seu quintal, onde Valentina, nove, Sofia, sete, e Juan Pablo, dois, costumam brincar no playground, foi erguida uma lona branca. As ambulâncias levaram para ali os feridos que, depois, eram deslocados para a Clínica San Juan de Díos, no vilarejo de Ceja, na descida para Medellín.

Produtora de hortênsias, Alba e o marido, Benicio Ocampo, 54 anos, tornaram-se voluntários no transporte até o local da queda. Foi na picape da família que chegamos até os destroços. Disposta a ajudar, ela também deu carona para policiais.

– É o mínimo que podemos fazer depois de tanta tristeza – resignou-se.

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