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O contato com familiares e amigos dos sobreviventes é difícil. A angústia do momento os impede de discorrer longamente sobre o que viveram nos últimos dias. A maioria só fala com naturalidade quando questionada sobre o passado. É quando descrevem com carinho a trajetória dos feridos até a noite trágica do acidente.
O alívio inicial com a confirmação dos sobreviventes foi substituído pela ânsia na busca por mais detalhes sobre seus estados de saúde. Paulo Follmann, pai do goleiro Jackson Follmann, chegou a classificar de "milagre" a retirada do filho com vida dos escombros. Já o pai do zagueiro Neto, Elan Zampier, reclamava na terça-feira, em entrevista ao SporTV, que não havia informações sobre os feridos:
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– Estamos felizes que ele estabilizou, mas agora não tem muito o que fazer. Me parece que está havendo muita preocupação para trazer os corpos, mas nem tanto com relação a quem está vivo.
ZH procurou pessoas próximas aos quatro brasileiros para questionar como têm enfrentado a angústia dos últimos dias. Diego Garcia, amigo de infância de Alan Ruschel, pediu licença para não entrar no doloroso assunto. Preferiu falar sobre o parceiro, que conheceu como o simpático vizinho no bairro Campo Vicente, em Nova Hartz. Tratou de lembrar como ele sempre teve facilidade para fazer amigos, e recordou das atuações de destaque na escolinha de futsal do Zé Carioca, em que Alan deu os primeiros chutes.
Fernando Follmann, primo do goleiro e dono de uma churrascaria na pequena Alecrim, município próximo a Santa Rosa onde o jogador nasceu, conta que há um clima de consternação na cidade. Moradores perguntam sobre a situação do "Rag", apelido dado a Follmann por conta do nome do meio, Ragnar. Elmo Dullius, o primeiro técnico no Esporte Clube Veterano, torce pela pronta recuperação enquanto lembra da personalidade forte do pupilo, uma característica que já se mostrava quando criança:
– Ele é muito decidido. Tem uma raça, uma força de caráter muito grande.
Para a família de Rafael Henzel, narrador da Rádio Oeste Capital, de Chapecó, as notícias vieram cedo. Ao chegar ao hospital, o locutor pediu a um jornalista colombiano que ligasse para avisar a família de que estava bem. A mulher, Jussara Ersico, partiu para a Colômbia ao lado do primo de Rafael, Roger Valmorbida. Em Chapecó, o restante da família fica na torcida.
– Foi um choque grande desde o momento que a gente recebeu as informações. A gente nunca ia esperar que acontecesse isso – afirma o primo Bebiano Valmorbida.
Entre a ansiedade e a incerteza, a tristeza e a esperança na recuperação, familiares e amigos dos feridos seguem buscando lidar com esse "choque", a terrível surpresa que a madrugada de terça-feira reservou. Ao menos relembram o passado com a certeza de que, em um futuro próximo, poderão estar junto dos sobreviventes do desastre.
* ZH Esportes