
Se eu fosse gremista e estivesse na Arena neste sábado, às 18h30min, de maneira alguma gritaria "ão ão ão, segunda divisão" quando o Internacional entrasse em campo. Ver um tricolor entoando este famoso canto do futebol gaúcho beira o surreal, e a explicação é bem simples: o Grêmio já foi rebaixado duas vezes, muito antes do Internacional. Como pode, então, tocar esta corneta no rival em pleno Gre-Nal?
Fazendo uma analogia, é como se, depois de ser traído duas vezes, eu tirasse uma onda com a responsável pela traição no momento em que ela fosse traída por outra pessoa. Não cabe, é estranho. Se eu fosse gremista e estivesse na Arena neste sábado, eu evitaria dar um tiro no meu próprio pé.
De repente, o clássico pode transformar-se numa batalha esquizofrênica de cânticos segundinos. Alguém de fora não entenderia nada. Se os tricolores acham que vão exorcizar o fantasma da Série B devolvendo a música que escutam desde 1991 aos colorados, estão muito enganados. A história não se apaga.
É por isso que foi tão difícil digerir o rebaixamento no final do ano passado, porque perdemos uma corneta especial, que quase sempre encerrava qualquer discussão sobre superioridade. Esta flauta não toca mais, para ambos os lados.
Agora, se os gremistas pensam que vão demonstrar no sábado que estamos rigorosamente iguais, anunciando a Série B para os colorados, quero dizer uma coisa: ainda é preciso ser campeão do mundo para nos igualar. E não sou eu quem fala, é a Fifa. Não pensem que sou corneteiro.