
Aquela terrível tarde de 17 de novembro de 2002 ainda está viva na minha memória. Enfurnado em meu quarto, liguei a TV e me preparei para o pior. Quando a RBS TV abriu a transmissão ao vivo de Belém do Pará, tive a certeza de que o Inter seria rebaixado. O estádio do Mangueirão, lotado, babava pela queda do Colorado para a Série B. O cenário da tragédia não poderia ser pior.
Depois de uma campanha horrível, com apenas seis vitórias em 24 partidas, o Inter chegou à última rodada precisando derrotar o Paysandu e ainda torcer por resultados paralelos. Três anos antes, Dunga havia nos salvado com uma cabeçada sobrenatural contra o Palmeiras. Desta vez, porém, havia pouca esperança. Parecia que o Colorado brincava com o azar e pedia para cair.
O Mangueirão empurrava o Paysandu para cima do Inter. O calor amazônico perturbava os jogadores vermelhos. O primeiro tempo terminou 0 a 0. A agonia só aumentava. Até que, aos 13 minutos da etapa final, Mahicon Librelato, que Deus o tenha ao seu lado no trono celestial, se atirou numa bola com um carrinho e fez o gol. Três minutos mais tarde, Fernando Baiano, numa falta despretensiosa, marcou o segundo.
Não me contive, dei um soco, derrubei minha televisão e saí gritando pela casa. Quando voltei para o quarto, aquele querido tubo jazia morto no chão, espatifado. Era o fim de um ciclo. O Inter não seria rebaixado para a Série B, eu entraria na era digital e daria um jeito de conseguir uma TV de LCD. O futuro era realidade!
Aquela tarde no Pará e o peixinho de Dunga foram trunfos durante alguns anos, especialmente quando o Inter reencontrou seu caminho de glórias e conquistou seus maiores títulos na era dourada dos anos 2000. As discussões sempre terminavam assim: nunca caímos, ponto final.
Meus amigos gremistas cansaram de sustentar a teoria da conspiração de que o Paysandu entregou aquele jogo para o Inter. Isso nunca teve lógica, porque a equipe do Pará chegou na rodada final com 29 pontos. Se Palmeiras (27), Paraná (27), Portuguesa (27) e Inter (26) vencessem suas partidas, rebaixariam o Papão da Curuzu. O Internacional ultrapassou aquele inferno com dignidade, não com malas de dinheiro.
Agora voltamos a Belém do Pará. É uma sina, reconheço. Chegamos ao topo do mundo, nos tornamos o clube mais vencedor do Brasil no século 21, reformamos nossa casa, sediamos uma Copa do Mundo, angariamos mais de 100 mil sócios e incrivelmente conseguimos ser rebaixados.
Às vezes me pego pensando se o mundo não era melhor antes. Não existia Whatsapp, Facebook, TVs ultramodernas e redes sociais. Era um mundo de TVs de tubo e do Colorado sempre firme na Primeira Divisão. Era um mundo em que torcer para o Inter não era moda. Era um mundo em que Clemer, filho do Pará, chorava por ver o Inter de pé e profetizava novos horizontes.
Que vontade de sair correndo e quebrar minha TV outra vez.