Antes do jogo e no intervalo, o telão da Arena exibe um vídeo de imagens da Seleção com trechos do hino nacional gravados com a voz pausada de Tite. Quando o nome do treinador é anunciado, junto com a escalação, o nível de decibéis produzido pela arquibancada é semelhante aos de Neymar e Luan. Adenor Bachi mudou a Seleção Brasileira, virou um ídolo da casamata, ouviu seu nome cantado por outros estádios do país, mas ainda não havia reencontrado o carinho dos gaúchos na nova fase. Agora, não falta mais o reconhecimento de sua gente pelo momento especial que vive.
A volta para casa foi com vitória difícil por 2 a 0, mas não importa. O torcedor foi contemplado por um segundo tempo mais inspirado do que a modorrenta primeira etapa, e Tite retribuiu. Atendeu aos insistentes pedidos por Luan e lançou o gremista ao campo aos 39 minutos do segundo tempo. Selou com um gesto atencioso a lua de mel.
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Depois, na entrevista coletiva, apareceu ao lado do auxiliar Cléber Xavier para ter um apoio, já que a voz tinha ido para o espaço. Reconheceu que o jogo no Rio Grande do Sul teve forte componente emocional.
– É muito gratificante voltar na tua terra, rever pessoas. Vir ao clube onde fiz uma história ainda na época do Estádio Olímpico, ter feito uma história, trabalhado nas duas equipes grandes daqui e ter o respeito das duas. Tudo traz um peso emocional mais forte. Pedi auxílio à comissão técnica para fazer a palestra porque eu tava... – Tite conclui a frase com um "ahhh", que indica como o jogo em Porto Alegre fez o coração pulsar mais forte.
E ajudou, também, a fazê-lo perder a voz. Questionado sobre os motivos da rouquidão, começou a culpar a emoção mais uma vez, ao que foi interrompido por Xavier, que o lembrou de quanto ele havia falado nos últimos dias.
– Fala muito? – perguntou um dos repórteres em tom de brincadeira. A resposta de Xavier não poderia ser mais gaúcha:
– Bá...
– Eu também tenho minha autoestima. Queria retribuir e vencer com a minha família aqui. Pedi muita informação pra eles (comissão técnica) nos últimos dias e questionei bastante – admitiu Tite.
A entrevista, ainda que carregada de sentimentalismo, também teve momentos do lado estrategista. Quando desandou a falar do jogo, Tite fez análises precisas que recuperaram os motivos de o Brasil ter encontrado dificuldades no início da partida – e como o time fez para desatar o "nó" preparado pelo Equador.
– Fizemos o mesmo quando enfrentamos eles no Equador, com toda a situação adversa da altitude – lembrou.
Detalhou, também, o ajuste tático para fazer com que a Seleção voltasse a brilhar no segundo tempo. Relatou que pediu aos dois laterais que subissem ao mesmo tempo, prendeu Paulinho em posicionamento mais conservador e abriu, assim, linhas de passe que permitiram à equipe acionar seus jogadores mais talentosos em regiões mais próximas do gol.
– Aí, o defensor já pensa duas, três vezes antes de ser mais agressivo – ensina.
E não deixou de falar de Luan e de como "flutua" pelo campo. Avisou que ele tem de continuar "arrebentando" no Grêmio para ter chances de ir à Copa, mesmo que não tenha tantos minutos na Seleção. Brincou que o lado azul não gosta de Alisson e o vermelho vaia quando a bola chega a Luan. Entre observações mais ou menos aprofundadas sobre mais uma vitória, ficou evidente que a voz rouca de Tite queria mesmo era falar do Rio Grande.
*ZHESPORTES