
Nesta primeira coluna quero homenagear os reais ídolos, que nos ensinam os verdadeiros valores do esporte: os professores de educação física.
Lembro-me do Colégio Polivalente e do professor Julião. Com ele, a bola não era problema. Podia ser de plástico, de meia, pequena ou grande. Se fosse futebol, ficava perfeito, até o professor participava. Era uma brincadeira só, mas com o tempo foi surgindo a vontade de praticar outras modalidades. Atletismo, vôlei, basquete, handebol, todos maravilhosos, mas acabei optando por ser pivô de handebol. Levava cutucão nas costelas, porém tinha uma pequena vantagem: meu tamanho. Eu era um "pouco" maior do que os outros marcadores.
Quando fui estudar em outro colégio, o Nossa Senhora dos Anjos, deparei com o grande professor Mathias, entusiasta do esporte, principalmente, e para minha alegria, do vôlei e do handebol. Minha trajetória no vôlei se iniciou quando faltaram jogadores para um campeonato de vôlei em Taquara. O professor Mathias perguntou se eu gostaria de ir nesta viagem como reserva. Me avisou que dificilmente eu jogaria, mas que ele gostaria de contar com um atleta grandão. Até hoje lembro da emoção quando, após a lesão de um jogador, o professor me chamou. Foi ali que me apaixonei pelo voleibol.
No mesmo campeonato, um professor da Sogipa me convidou para fazer um teste. Logo fui contar para o meu pai, e fomos conversar com o gerente de esportes, o senhor Milton Cunha. No meio da conversa, entra o Renan, que já era uma revelação do vôlei brasileiro. Ele já defendia a seleção e recém havia voltado do Campeonato Mundial.
Contei que todo mundo queria que eu jogasse basquete, por causa do tamanho, e a resposta dele foi simples:
- Vôlei, cara. Vôlei!
Então comecei a treinar com o professor Batista, ou melhor, o "Super Batista". De vasta barba e muito disciplinador, adorava beliscar as costelas quando o atleta estava meio dormindo na quadra. Pois é, a este profissional maravilhoso quero expressar toda a minha gratidão por quem sou hoje.
Em 1978, quando meus pais me disseram que não daria mais para eu treinar, devido às dificuldades financeiras da nossa família e aos custos de passagens de Gravataí a Porto Alegre, além da alimentação, roupas de treino e tênis, cheguei meio sem jeito e contei a situação ao Batista. Ele disse que daria um jeito. Sabe qual foi o jeito? Tirava do bolso um dinheiro enroladinho e me dava para pagar as passagens e mais um cachorro-quente.
Dali em diante, joguei em diversos clubes, fui campeão estadual, nacional, campeão da Liga Mundial, e o sonho de todo atleta: fui aos Jogos Olímpicos, primeiro em Seul, em que me deslumbrei ao lado dos atletas que eu só via na TV. Depois, Barcelona e a consagração com o título olímpico. E teve ainda Atlanta, em 1996, no centenário dos Jogos da era moderna. Depois de parar, ainda fui a Sidney, em 2000, e Atenas, 2004.
Devo toda essa trajetória aos reais ídolos, os queridos mestres professores de Educação Física. Por isso que me orgulho da minha maior contribuição no esporte: tornar obrigatória a Educação Física nas escolas, valorizando mais do que nunca o esporte como qualidade de vida e os profissionais da área.