
O som vindo das arquibancadas era como se um time de futebol avançasse aos poucos, em um ataque que ganha perigo e empolga o torcedor à medida que chega perto do gol. Mas não era futebol. As braçadas de Daynara de Paula, que a aproximavam da vitória em uma das baterias classificatórias do 100m borboleta, motivavam a excitação. Quando chegou ao fim da piscina em primeiro lugar, a vibração foi como a de um gol no Maracanã, e logo irromperam gritos de "Brasil! Brasil!", na primeira amostra de como a torcida empurrará os nadadores brasileiros nos Jogos.
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Mesmo que os anfitriões tenham contado com o apoio da arquibancada, as atrações principais da primeira seção de baterias da natação ficou por conta dos estrangeiros. Adam Peaty, da Grã-Bretanha, bateu o próprio recorde mundial ao cravar 57s55 no 100m peito, logo depois da húngara Katinka Hosszu ter ficado a apenas 15 centésimos da melhor marca da história do 400m medley. A equipe do revezamento 4x100m livre feminina da Austrália também fez sua parte, ao bater o recorde olímpico da prova.
Os dois contaram com gritos empolgados de um Estádio Aquático Olímpico com alguns assentos vazios, mas de torcida disposta a empurrá-los mesmo que não carregassem a bandeira do Brasil. Assim que perceberam a possibilidade de tempos históricos na piscina do Rio, os espectadores fizeram barulho. Peaty, atual campeão mundial da prova que busca sua primeira medalha olímpica, respondeu. Hosszu bateu na trave.
O dia começou com o 400m medley masculino, em que o menino Brandonn de Almeida, de apenas 19 anos, foi o primeiro a sentir o calor da torcida. Não foi suficiente, porém, para garantir um lugar na final, já que fez o 15° tempo.
Em seguida foi a vez do 100m borboleta feminino, que além da explosão provocada por Daynara, também teve bom desempenho de Daniele Marçal Dias, dona da 16ª marca do dia, o que a garantiu, ao lado da compatriota (que foi a 14ª), nas semifinais.
O 400m livre masculino reservou dois momentos marcantes. Luiz Altamir levantou a torcida e ficou em segundo lugar em sua bateria. Passou longe, porém, de se classificar para a final, já que ficou na 32ª colocação no geral.
Depois, o espanhol Miguel Navia comoveu o público com um drama relâmpago. O nadador queimou a largada. Seguro de que seria eliminado pelo equívoco, colocou as mãos no rosto e chorou, aplaudido pelas arquibancadas ao deixar a piscina. Mas os juízes não confirmaram a desclassificação e Navia retornou, levando o público ao delírio.
No 400m medley feminino, foi a vez da pernambucana Joanna Maranhão, que despede-se dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. A veterana de 29 anos, que disputou os Jogos pela primeira vez em Atenas-2004, quando chegou à final, foi ovacionada ao aparecer no telão, antes da prova. Simpática como sempre, esboçou um sorriso. Finalizou sua bateria em terceiro lugar, com a 15ª marca na classificação geral.
O melhor da prova viria com a multicampeã húngara Katinka Hosszu. A cada parcial, o público percebia que a nadadora estava próxima do recorde mundial. Quando virou para os últimos 50 metros, estava 1s39 abaixo da marca da chinesa Shiwen Ye. Não a superou por míseros 15 décimos de segundo ao cravar 4min28s58, o segundo melhor tempo da história da prova.
Depois do ótimo desempenho de Felipe França e João Gomes Júnior, os brasileiros do 100m peito que se classificaram em terceiro e oitavo no geral, respectivamente, parecia que o dia não reservaria maiores emoções. Mas Peaty as entregou com sobras.
Ainda houve tempo para o revezamento 4x100m livre feminino, com participação de Katie Ledecky, apontada como possível "papa-medalha" da Olimpíada, na equipe dos Estados Unidos. As americanas, reforçadas pela estrela, foram as segundas mais rápidas da manhã. O Brasil ficou em 11°, e a Austrália protagonizou mais um tempo histórico, ao cravar 3m32s39, estabelecendo o novo recorde olímpico.
A primeira seção de finais da natação será ainda neste sábado e começa às 22h.