
A capacidade hoteleira do Rio de Janeiro praticamente dobrou com os investimentos realizados para os Jogos Olímpicos, mas, um ano após o evento, algumas redes de hotéis são obrigadas a abaixar os preços em função da baixa procura.
A taxa de ocupação chegava a 76% em agosto do ano passado, durante os Jogos Rio 2016, mas, uma vez acabada a euforia olímpica, os hotéis tiveram que lidar com uma dura realidade.
Leia mais
Incêndio no Velódromo deixa cinzas e mancha preta na pista
Juvir Costella: lembranças de uma semana olímpica
Falta de recursos trava construção de escolas do legado olímpico
Em junho deste ano, a taxa caiu para 37%, contra 60% na mesma época em 2015 e 50% em 2016.
O marasmo, consequência de uma crise econômica que assola o Brasil há mais de dois anos, se viu agravado nos últimos meses por um aumento significativo da violência que vem manchando a imagem da "Cidade Maravilhosa".
Com isso, a taxa de ocupação foi de apenas 51% no primeiro semestre, contra 61% no ano anterior.
– Nossa capacidade hoteleira passou de 29.000 quartos em 2009 para 56.000 em 2016. Mas se dobramos a capacidade e não aumentamos a quantidade de turistas, é normal que a ocupação caia pela metade – justifica Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira no Rio (ABIH-RJ).
Investimentos comprometidos
– A situação é crítica – alerta Alexandre Sampaio, presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA).
– Os hoteleiros responderam ao chamado do governo para cumprir o caderno de encargos do COI. Hoje a situação desses investimentos está muito comprometida. Se esses investimentos não tiverem ocupação sustentável, muitos hotéis podem fechar no segundo semestre desse ano – prevê.
A situação é ainda mais complicada para os novos hotéis construídos perto do Parque Olímpico, na Zona Oeste da cidade, distante dos bairros turísticos e sem real interesse para os visitantes.
A maioria das instalações esportivas está abandonada e o número de eventos realizados nos locais não são suficientes para rentabilizar os investimentos.
– Hoje quase ninguém vai nos hotéis do entorno do Parque Olímpico, só ocupantes esporádicos. Os hotéis estão trabalhando com um ou dois pavimentos, com ocupação de 12% – observa Alfredo Lopes.
–Nenhuma rede internacional vai colocar investimentos de milhões contando apenas com Olimpíada – continua.
O marasmo envolve também os estabelecimentos dos bairros turísticos, como o Arena Ipanema, localizado à beira da famosa praia.
Este hotel de 4 estrelas e 136 quartos, construído para os Jogos Olímpicos e inaugurado a poucos dias da cerimônia de abertura, está longe de cumprir com as metas.
– Estamos atravessando uma crise muito grande de ocupação, o movimento pós-olímpico não é o que foi planejado – lamenta Douglas Viegas, gerente do hotel, em sua recepção praticamente deserta.
– Estamos operando agora numa média de 40% de ocupação, quando a meta era 75% – completa, admitindo ter tido que abaixar seus preços para tentar atrair clientes.
Alguns estabelecimentos tentam inovar propondo aos moradores da cidade tarifas preferenciais para o "Day Use", que permite o uso das instalações -piscina, spa ou academia- durante o dia, sem a necessidade de se dormir no hotel.
* AFP