Movimentos bruscos e involuntários dos membros, espasmos no pescoço e nos braços, tremores nas mãos e piscadas repetidas dos olhos. Essas são algumas das reações que, diariamente, acompanham a vida de mais de meio milhão de pessoas com distonia no país. O problema atinge 3,4 em cada 100 mil pessoas, segundo dados do Ministério da Saúde.
O neurologista Flávio Sekeff Sallem, do Hospital das Clínicas (HC-FMUSP) explica que distonia é uma doença neurológica, que produz contrações musculares involuntárias em determinadas regiões do corpo. Segundo ele, a semelhança nos sintomas faz com que o problema seja confundido com o popular "tique nervoso", que é manifestação semi-involuntária em que a pessoa consegue controlar o gesto.
Abaixo, Sallem fala sobre os principais mitos e verdades sobre o problema:
:: A distonia pode estar associada ao Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)?
Flávio Sekeff Sallem: Estas são duas condições relativamente comuns e podem ocorrer em um mesmo paciente, sem necessariamente haver relação entre elas. Mas em casos de TOC, o paciente que recebe medicações psiquiátricas pode apresentar quadros de distonia, quer sejam auto-limitados (distonias agudas) ou crônicos (distonia tardia).
:: O problema atinge somente as mulheres?
Sallem: Não. O problema atinge pessoas de todos os sexos, idades, classes sociais e raças.
:: Se a doença não for tratada, pode prejudicar atividades simples do dia a dia como andar, dirigir, escovar os dentes e se alimentar?
Salem: Há casos em que desde o começo já existe este prejuízo das atividades diárias. Em outros, o quadro pode ser benigno a ponto de não levar a grandes prejuízos, mesmo quando não tratados. Há ainda casos em que doença evolui para grandes perdas funcionais.
:: Ela tem cura?
Sallem: Sendo uma doença de múltiplas causas, a maior parte é incurável, dependendo da causa apresentada. As distonias causadas por medicações podem desaparecer sozinhas ou com uso de remédios apropriados. Já a distonia, que acompanha casos de paralisia cerebral, não tem cura. Distonias pós-derrames cerebrais ou secundárias, as lesões cerebrais variadas podem raramente melhorar sozinhas. As distonias primárias, ou seja, sem causa definida e sem lesão cerebral ou medular, raramente podem melhorar ou mesmo desaparecer sozinhas ou com o uso de medicações, como a toxina botulínica.
:: Existe tratamento para controlar a distonia?
Sallem: Há vários tratamentos, clínicos e cirúrgicos. O procedimento clínico mais importante, dependendo da extensão da lesão, é a toxina botulínica tipo A. Ela é considerada a medicação "padrão ouro" para o tratamento das distonias. Sua ação é sobre a placa motora, onde o nervo encontra o músculo, bloqueando a liberação de neurotransmissores.
:: Quem tem distonia perde a total comunicação e a locomoção?
Sallem: Nem sempre. Há casos onde isso ocorre como nas distonias de membros inferiores, generalizadas ou distonias da região oro-lingual.
:: A doença impossibilita a pessoa de trabalhar?
Sallem: Em alguns casos sim, como nas distonias generalizadas. Em outros casos, existem pacientes que não só trabalham, como praticam esportes.
:: É um problema hereditário?
Sallem: Alguns casos sim, mas a maior parte é primária sem história familiar, ou secundária a medicações ou lesões cerebrais.
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