Quase sempre esquecida em razão do surgimento de drogas cada vez mais devastadoras, a maconha está longe de ser subestimada pela classe médica. O alerta para os riscos à saúde ganhou reforços científicos, principalmente se o uso começar na adolescência. Quem a consome com frequência antes dos 20 anos pode perder até 30% da capacidade de memória.
O tema está em pauta entre pesquisadores reunidos em Gramado até sábado para o 7º Congresso Brasileiro de Cérebro, Comportamento e Emoções. A pesquisa inédita da Universidade Federal de São Paulo, publicada neste mês na revista britânica The British Journal of Psychiatry, avaliou 170 pessoas que têm, em média, 30 anos e fumavam 1,5 cigarro de maconha por dia durante 10 anos, em média.
Entre as conclusões, a neuropsicóloga Maria Alice Fontes alerta que os usuários que começaram a usar a droga ainda na adolescência tiveram mais prejuízos às funções cognitivas do cérebro, como organização, planejamento e capacidade de armazenamento de dados.
- Durante a adolescência, o cérebro está em fase de amadurecimento. Nesta fase, estão se fazendo ligações importantes, e o uso da droga desestabiliza o sistema provocando prejuízos que podem ser graves no futuro - destaca a pesquisadora.
Fumar esporadicamente pode provocar esquizofrenia
De acordo com Maria Alice, os efeitos da maconha nem sempre são percebidos imediatamente, e os danos relacionados à memória podem se agravar na fase adulta. O perigo é evidenciado pelo uso contínuo e intenso da droga. Como a dimensão do consumo excessivo é por quantidade, não por tempo de uso, acredita-se que os sintomas se agravem com uma média de 5 mil baseados fumados, ou seja, pelo menos um baseado por dia, durante 13 anos. O uso esporádico, no entanto, pode produzir problemas psiquiátricos, como esquizofrenia, ansiedade e fobias.
- Os danos, independentemente da idade, podem ser revertidos com a abstinência total da droga e reabilitação neuropsicológica. O problema maior é quando se fuma precocemente. Os danos são maiores. Além disso, parar de fumar totalmente é muito difícil ao usuário - explica a especialista.
A perda das funções cognitivas nos adolescentes usuários de maconha pode refletir diretamente na capacidade de raciocínio, influenciando nos estudos e no trabalho, na fase adulta.
A pesquisa
:: A pesquisa foi feita pela Universidade Federal de São Paulo com 170 usuários de maconha em fase de reabilitação
:: Com idade média de 30 anos, os pesquisados foram na maioria homens
:: Em média, os dependentes consumiam 1,5 cigarro de maconha por dia durante 10 anos
:: Os que começaram o uso na adolescência, antes dos 15 anos, tiveram danos cerebrais mais sérios, comprometendo até 30% da memória e da capacidade de planejamento e organização
:: Não há um percentual das perdas em quem começa o consumo após a adolescência, mas sabe-se que é relativamente menor do que com o uso precoce
:: Quem fuma esporadicamente pode agravar sintomas de esquizofrenia, ansiedade e fobias
SERVIÇO
:: O que: 7º Congresso Brasileiro de Cérebro, Comportamento e Emoções (destinado a médicos psiquiatras, neurologistas, geriatras, psicólogos e neurocientistas)
:: Quando: até sábado
:: Onde: Expogramado (Avenida Borges de Medeiros, 4111, Centro)
:: Quanto: inscrições podem ser feitas na hora com custo de R$ 355 a R$ 475
:: Informações: www.cbcce.com.br
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