Se a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está insistindo na defesa da suspensão do registro da sibutramina e de outros emagrecedores - e dando fortes indícios de que vai agir neste sentido -, entidades médicas se manifestam contrariamente à posição e pedem bom senso ao órgão regulador.
- Esperamos que eles usem o bom senso e não a autoridade. O Brasil tem que agir por ele mesmo e não seguir definições da Europa e dos EUA - afirma a endocrinologista e membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO), Maria Edna de Melo.
A associação, juntamente com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), criou um abaixo-assinado em seu site para que a população se manifeste contra a retirada dos medicamentos antiobesidade do mercado, já que, desde o início das discussões públicas, a Anvisa não parece ceder, nem levar em consideração as evidências apresentadas pelas entidades.
- Desde o início, a Anvisa fundamenta seu argumento a favor da suspensão do registro da sibutramina somente no estudo conhecido como SCOUT (Sibutramine Cardiovascular Outcome Trial), encomendado pela agência europeia. Contudo, esta pesquisa foi realizada com pacientes de alto risco e propensão a problemas cardíacos. Existem outros estudos, que nós já apresentamos, que comprovam a eficácia e a segurança deste medicamento quando adequadamente prescrito - defende a médica.
A sibutramina está há aproximadamente 10 anos no mercado e, de acordo com a ABESO, pesquisas revelam que ela é eficaz na perda de peso, melhora da apneia do sono, controle do diabetes e de outras doenças associadas à obesidade.
Como o inibidor de apetite é indicado
Atualmente, o medicamento é prescrito de acordo com as orientações de sua bula e em conformidade com as diretrizes oficiais de indicação medicamentosa para tratar a obesidade, considerada uma doença crônica e com uma incidência cada vez maior no país.
Os medicamentos devem ser indicados para a obesidade quando o índice de Massa Corporal (IMC) estiver acima de 25 e o paciente possuir outras doenças ou quando estiver maior do que 30, ainda que sem outras comorbidades.
- O médico faz essa primeira análise em conjunto com uma avaliação clínica completa e, se estiver tudo certo, pode receitar a sibutramina juntamente com uma orientação nutricional e uma prescrição de atividade física. Em todo tratamento de obesidade, a primeira recomendação é a mudança no estilo de vida - explica Maria Edna.
Eficácia do tratamento depende do paciente
Em contraponto a um dos argumentos da Anvisa - de que a sibutramina faz com que apenas 30% dos pacientes percam peso -, os endocrinologistas afirmam que a eficácia de tratamentos para qualquer doença depende das características e do organismo do paciente.
- Claro que o medicamento não funciona para todos, da mesma forma que nem todas as pessoas que têm câncer respondem à quimioterapia. Se a média de perda de peso é de 3 quilos, temos que pensar que há pacientes que perdem 15, outros engordam 5, e por aí vai. Mas para alguns funciona, sim - exemplifica a médica.
Segundo Maria Edna, a ABESO e a SBEM já estudam se existe uma forma de recorrer judicialmente contra a decisão da Anvisa, se esta decidir pela proibição.
>> Em infográfico, veja como a sibutramina age e os seus efeitos no organismo:
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