Os acampamentos de sem-terra à beira das estradas gaúchas viraram tapera, barracas abandonadas. Foram esvaziados pela abundância de empregos na construção civil, pelos programas de inclusão social do governo, como o Bolsa-Família, e pelo assentamento de dezenas de famílias em glebas da reforma agrária nas últimas duas décadas. A soma de todos esses fatores resultou na decadência política do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o que significa um destino incerto para a organização, que já foi um ícone da luta por melhores dias dos agricultores pobres do Brasil.
O MST nasceu e prosperou no lado norte do Rio Grande do Sul, entre os filhos dos agricultores que produziam em pequenas e diversificadas propriedades rurais, a chamada economia colonial. Nos anos 1980, no auge da luta pela reforma agrária, o MST decidiu levar a economia colonial para a parte sul do Estado, região das grandes propriedades, onde predominava a criação de gado de modo extensiva. A ideia era cravar "o punhal da reforma agrária no coração do latifúndio".
Na década de 1990, a economia do país começou a consolidar um ciclo de desenvolvimento e trouxe outras opções para o jovem rural que apostava o seu futuro na luta pela terra. Eles começaram a abandonar as fileiras do MST. A cúpula do movimento resolveu buscar novos militantes entre os moradores das periferia das cidades.
Na virada do século, o perfil das fileiras do MST mudou: apareceu uma maioria não ligada às lidas rurais e com poucos vínculos políticos com a cúpula da organização. O movimento está repleto de grupelhos que lutam pelo poder da organização. Alguns deles se envolvem em ilegalidades, como o arrendamento e a venda das glebas que ganham do governo no programa de reforma agrária.
Certa vez, um dos dirigentes do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) comentou que estavam faltando sem-terra para ocupar as glebas oferecidas pelo governo.
Esse é o cenário de hoje: à beira de estradas, barracas de lona preta abandonadas e uma bandeira esfarrapada do MST tremulando, presa a uma taquara. Nos rincões onde aconteceram os conflitos agrários, toscas cruzes lembram aqueles que tombaram na luta pela reforma agrária.
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