Foto: Fernando Gomes
Foto: Fernando Gomes
Foto: Fernando Gomes
Foto: Fernando Gomes

Dois pneus, um painel, meia dúzia de calotas e pedaços de para-choques jazem em um canteiro da Rua Doutor Gastão Rhodes, no bairro Santana. Se para um porto-alegrense com tino de Professor Pardal o conjunto pode sugerir a montagem de algum modelo frankestein de veículo, para quem circula por ali, junto à Praça Visconde de Taunay, o cenário tem outro nome: lixo.
Um mês depois do começo da aplicação da lei que multa quem joga lixo na rua, completado nesta quarta-feira, a sujeira continua por toda a parte. Em uma nova investida por alguns dos pontos de Porto Alegre visitados um mês atrás por ZH (veja aqui), a reportagem constatou poucas melhoras no aspecto geral da cidade: com exceção da Rua Coronel Claudino, de onde foram retirados três caminhões de lixo em abril, os demais pontos estão iguais ou piores (veja todos no final do texto).
Segundo o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), o foco da lei não é provocar uma mudança imediata na paisagem, mas uma melhora paulatina no comportamento da população. A filosofia guiou a ação dos 33 agentes que fazem um trabalho itinerante, atuando cada mês em uma região da cidade.
Em abordagens a pedestres e estabelecimentos comerciais, realizadas no Centro Histórico nos primeiros 30 dias, foram aplicadas 52 multas. No Rio de Janeiro, onde a lei vigora há oito meses, esse número foi superior a 1,8 mil no mesmo período. Os números em Porto Alegre são modestos porque, das 721 abordagens, a maioria das pessoas resolveu voltar atrás, depositando o lixo no local devido e evitando a punição financeira.
- Tem um dado positivo, que é o número de cidadãos que concordaram em retroceder na conduta errada. A linha da educação tem sido eficiente. Esta não é uma lei que visa a cumprir função de arrecadação - diz o diretor do DMLU, André Carús.
De acordo com Carús, foram recebidas mais de 1,6 mil denúncias que também viraram multas pelo telefone 156. Os denunciados estão sendo notificados e, bem como as pessoas abordadas pelos agentes, terão chance de recorrer antes de colocar a mão no bolso.
A partir desta quarta-feira, os agentes de fiscalização estarão na região do bairro Humaitá, na zona norte da Capital. No período em que ocorrerão as abordagens no local, o DMLU deverá fazer ações informativas em escolas e associações.
Cigarro no chão é o mais visto
Enquanto a reportagem fotografava sacos de caliça despejados na Avenida Mauá, um taxista combatia o tédio com nicotina metros adiante, na Rua Carlos Chagas. O destino da bituca do cigarro consumido ali seria descoberto pelo próximo gari a circular pelo local.
Há três meses limpando as ruas da cidade, Valdir Mendonça acredita que houve leve melhora no aspecto do Centro. O cigarro é tão comum que ele o exclui da avaliação.
- Tem menos lixo. É mais bituca de cigarro, essas coisas. Mas, quando chove, a rua fica cheia (de resíduos).
Morador do Centro Histórico, o ator e produtor de teatro André Varela destaca que o que mais o incomoda são os "depósitos de lixo" criados por catadores e carroceiros, além da sujeira perto dos contêineres. Mas, para ele, banir o cigarro da rua pode ser o maior desafio.
- Ainda é cedo para reparar uma mudança significativa no comportamento das pessoas. Mas acho que a questão do cigarro é a mais complicada. É um hábito difícil mudar - opina.
Veja a situação nos pontos visitados pela reportagem:

Rua Coronel Claudino: ponto mais crítico vistado pela reportagem em abril, o local foi limpo, mas o esgoto a céu aberto e o canteiro do outro lado da rua continuam sendo depósito de materiais de construção, caixas de papelão, garrfas e embalagens
Foto: Fernando Gomes
Arroio Cavalhada: na margem do arroio, a massa de terra parece estar entranhada aos resíduos, difíceis de identificar à distância. Dentro da água tem de tudo: de garrafas a gavetas, passando por papeis e embalagens plásticas.

Foto: Fernando Gomes
Arroio Sanga da Morte: a movimentação de catadores é intensa no local, onde eles selecionam os materiais encontrados na rua e despejam o que não interessa.


Praça Visconde de Taunay: o lixo está por toda a parte: no gramado, perto da quadra esportiva, nos arredores e até sobre os bancos. Restos de computador e peças de carros são recorrentes.

Rua José Pedro Boéssio: no canteiro ao longo da via, há vários focos de descarte irregular. Móveis e até uma carcaça de televisão foram vistos no local.

Avenida Mauá: não é das mais sujas do Centro, mas contava com cerca de 20 sacos de caliça na altura do número 18, junto a Casa de Bombas do Departamento Municipal de Água e Esgotos.
Como denunciar
As denúncias sobre descarte irregular de resíduos podem ser feitas pelo número 156 - Fala Porto Alegre, ou através de um formulário eletrônico, no qual é possível anexar fotos e vídeos de ações irregulares e que auxiliem na identificação de infratores.
Ao fazer a denúncia online, no campo "solicitação", classifique a mensagem como "informação" ou "reclamação". É necessário informar data, hora e localização completa da ocorrência, identificação do denunciante e telefone para contato. Para acessar o formulário, clique aqui.