Sete horas antes da apresentação de Ed Sheeran prevista para a gravação do show "Austin City Limits" em junho, no Texas, três jovens estavam sentadas sobre um cobertor vermelho na calçada em frente ao estúdio, enfrentando o calor na esperança de conseguir uma entrada. Coisas normais quando se trata de um ídolo do pop.
Dentro do estúdio, poucas horas depois, o incomum ídolo pop - um cantor de folk britânico baixinho, com um tufo de cabelo vermelho e um semblante despretensioso - se mostrava exultante. - Voltei a usar tamanho pequeno! -, começou a falar entusiasmado, vestindo uma das camisetas que usaria durante o show.
O último ano tinha sido difícil - para as suas medidas, a sua vida amorosa, seu estado de espírito e muito mais - e, finalmente, duas semanas antes do lançamento de seu segundo álbum, "x" (Atlantic), ele voltou a ficar em forma: - Eu passei de P para M para G, voltei a usar M, depois voltei ao P-.
Em "x" (pronuncia-se "multiply"), que saiu em junho, Sheeran conta a história de seu percurso emocional, abrangendo os quase três anos desde o lançamento de seu álbum de estreia, "+", que muito lentamente fez dele uma estrela, o que, por sua vez, muito, muito lentamente, começou a transformá-lo de dentro para fora, até que ele reverteu a maré.
Até hoje, Sheeran é mais conhecido por "The A Team", um balada em tom de lamento que conta a história de uma prostituta viciada em drogas, adoçada poderosamente por sua voz melancólica e seu dom para fazer melodias fáceis. A canção foi estourando devagar, e acabou chegando à 16a. posição na parada da Billboard Hot 100. Também o ajudou a conseguir espaço para fazer o show de abertura da turnê "Red", de Taylor Swift, no ano passado.
Isso fez com que ele caísse no gosto de milhares de adolescentes e o ajudou a alcançar um feito improvável: transformar seu folk moderno sem grandes firulas em um fenômeno do pop. No ano passado, Sheeran fez três shows com ingressos esgotados no Madison Square Garden. - Não acho que pareço um astro pop típico, eu não canto como um -, disse ele durante um intervalo à tarde, em seu hotel.
A estética do impressionante novo álbum de Sheeran incorpora deliberadamente esse sucesso. A primeira música do disco, "Sing", uma faixa dançante de inspiração soul produzida por Pharrell Williams que lembra bastante o soul branco de Justin Timberlake e Robin Thicke, sem o peso de ter que inovar o estilo. A canção é para Sheeran algo que ele não tinha antes e que não tem vergonha de ter agora - um hit de rádio óbvio.
- Eu queria fazer algo que lembrasse o estilo do Justin Timberlake -, disse ele, acrescentando que o plano original não era colocar essa música neste álbum. Ela passou a integrar o conjunto de canções selecionadas apenas a pedido de um dos seus mentores, Elton John.
Mesmo ao contar esse fato, Sheeran se mostra despretensioso, e o folk do cantor e compositor é simples quase que por definição: um artista solitário no palco, muitas vezes apenas com uma guitarra (a configuração aumenta com o uso de uma estação de loop que ele manipula com os pés). Mas mesmo podendo muito bem ser o mais conhecido cantor de inspiração folk no pop contemporâneo, Sheeran é no fundo um experimentalista que vive de ouvidos bem abertos, sem nada da modéstia, falsa ou não, que normalmente acompanha quem representa o gênero. Ele começou a se apresentar nas ruas e a fazer pequenos shows na adolescência, incentivado por seu pai, que lhe disse que ele poderia deixar a escola para trás, já que estava trabalhando arduamente por um objetivo. - Eu estava fugindo de uma vida cujo caminho já tivesse sido delineado-, disse ele.
- A coisa da competição surgiu logo no início-, lembrou. - Estar em um show em que cinco cantores e compositores se apresentariam e pensar, tipo, 'eu quero matar todos eles'-. Ele comparou essa atitude à letra de "Control", de Kendrick Lamar, na qual o rapper dispara uma lista de nomes: - Muito amor para todos vocês, mas vou acabar com a sua raça -.
Ele lançou por conta própria uma série de EPs, mas a primeira vez em que chamou a atenção de um público mais amplo não foi com o folk, mas com um álbum em que colaborou com alguns dos expoentes do grime, na época o som mais popular da Grã-Bretanha negra, um projeto que imediatamente distinguiu Sheeran.
O gosto pelas colaborações tem desde então feito parte de sua carreira. Sheeran já compôs canções para o One Direction, entre outros, mas insiste que seu lado mais simples - ser puramente cantor e compositor - é o que lhe parece mais natural: - Eu diria que é onde me sinto mais confortável -.
Talvez a coisa mais folk de Sheeran seja seu desejo obstinado de que as pessoas se concentrem no conteúdo da sua música, não no seu contexto, algo que passou a preocupá-lo mais assim que se tornou uma figura presente em alguns tabloides.
- Tem um fato interessante. 'Sing' é sobre uma pessoa muito, muito conhecida. Ninguém sabe disso, então ninguém fica se perguntando, 'De quem essa música está falando?' -, revelou.
"Take It Back", uma das novas canções (ela está na edição de luxo do álbum) na qual Sheeran faz rap - as músicas mais angustiadas de Sheeran costumam ser as que têm rap - também pode suscitar muitas perguntas: -Depois de dormir em uma estação de metrô/ Passei a dormir com uma estrela de cinema/Contribuindo com o aumento da população - (Sheeran disse que não tem filhos).
- Eu fiz de tudo no ano passado -, disse ele, exausto. Tudo. Tudo de errado e tudo de certo. Foi um ano muito importante -. Em um determinado momento, ele se mudou para Los Angeles para viver um relacionamento, apenas para ser dispensado no dia em que chegou: - eu literalmente aterrissei vindo do Canadá, a pessoa terminou comigo, então eu fui para casa e desfiz minhas malas-.
Ele continuou: - Estava em uma situação em que algo que eu nunca pensei que seria possível me foi apresentado. Senti que tinha que apostar naquela oportunidade, que não deveria deixá-la passar, e hoje sei que as aparências enganam-.
A intensidade acumulada de suas experiências - fazer a turnê com Taylor Swift, vivendo só com uma mala e compondo músicas entre os shows - teve um preço: - Eu não estava gostando muito de mim mesmo no ano passado, do pacote inteiro. Eu não estava feliz - .
Este ano, porém, tem trazido oportunidades para uma mudança de atitude. Sheeran está em um relacionamento estável com uma pessoa que não é famosa. E depois de ver uma foto em que se achou muito inchado, parou de comer pão e tomar cerveja, voltando a usar roupas de tamanho "P".
Na gravação do "Austin City Limits", ele se apresenta de forma intensa para a multidão, muito mais jovem do que o público que costuma frequentar seus shows, mais próximo do estilo de cantores e compositores polidos e das performances austeras de uma geração mais antiga ligada ao gênero Americana.
Em "Give Me Love", de seu primeiro álbum, Sheeran abusa de sua estação de loop, com uma voz vibrante que o tira de sua zona de conforto. Perto do fim do "No", ele canta o coro de "Loyal", de Chris Brown, outra canção cáustica sobre uma decepção amorosa.
Sheeran cantou "All of the Stars", uma canção da trilha sonora do recente drama "A Culpa é das Estrelas", enquanto a multidão ansiosa parecia hipnotizada, em silêncio. Na sala de controle, um diretor orquestrou a passagem das câmeras pelo rosto pouco iluminado dos fãs adolescentes. - Ela está chorando, que coisa linda -, disse ele, enquanto a câmera mostrava o choro de uma menina de cabelos escuros.
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