José Vanderlinde, descartou livros de uma escola, foi denunciado por um catador e acabou exonerado pela Secretaria de Estado da Educação. Ponto final nessa história? Nada disso. Depois da confirmação da saída, os próprios alunos querem que ele e seus dois assessores permaneçam em seus cargos. Ontem foram dois protestos: um de manhã e outro no início da noite. Alguns insistem que o diretor não cometeu erro algum, e que "a história não está bem contada"
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Um evento foi criado no Facebook e até o horário previsto, às 18h, eram 175 confirmados com um clique - cerca de 20% do total de alunos da escola, que tem 900 estudantes nos três turnos. Boa parte dos confirmados apareceu - cerca de 100 e se concentrou em frente à escola no horário marcado. Pediam justiça e criticavam "a mídia".
De acordo com o professor de sociologia Dilson Marsico, o modo como as notícias foram divulgadas impactou toda a comunidade. Ele acredita que houve um erro humano, mas considera uma injustiça a saída do diretor:
- Ele está há sete anos na escola, e sempre foi muito bom. Os alunos espontaneamente fizeram os cartazes, pois não podemos esquecer todas as coisas boas que ele já fez. Desconfiamos inclusive que existe uma armação para prejudicá-lo - disse.
Apoio pelo Facebook
O protesto começou no Facebook. Ganhou adeptos rapidamente, e logo pintaram dois vídeos curtos, de menos de 30 segundos cada, mas suficientes para mostrar dezenas de estudantes em coro: "Fica, diretor", gritavam os alunos, entre aplausos e gritos".
José Vanderlinde, ao lado, sorria, observava e agradecia. Luan Martins, estudante que postou uma foto dos alunos com uma faixa comprida, referendou o pedido na legenda:
- Que a justiça seja feita #?Ficadiretor
A hashtag mostra o apoio dos alunos ao diretor "Zé", como os alunos o chamam. Os estudantes já passam de sala em sala um abaixo-assinado para pedir à Gered que reveja a decisão de tirar José do Cargo, ainda que ele vá ficar
Aluna vê melhoras
A estudante do terceiro ano Gabriela Becker Guilherme Lehmkuhl, 17 anos, é uma das organizadoras da manifestação. Ela disse que desde que entrou na escola, há três anos, viu as melhorias realizadas pelo diretor:
- Sempre vi ele correndo atrás para fazer as coisas boas para a escola, como o ensino médio inovador, melhorou os laboratórios de informática. Acho que tem mais coisas que precisam ser esclarecidas antes de julgá-lo - finalizou.
REVIRAVOLTA?
Até as 20h, a Hora tentou contato por telefone com Dagmar Pacher, da Gerência Regional de Educação (Gered) para verificar se a posição de exoneração poderia ser revista, mas as ligações caíram na caixa postal.
O caso
- Na terça-feira, reportagem trouxe a denúncia de um catador, que teria recebido 3 mil livros
- No mesmo dia, a Gerência Regional e a Secretaria de Educação abriram e praticamente encerraram investigação
- Na quarta-feira, o processo foi concluído e a decisão foi exonerar o diretor, que é concursado e continua na Escola de Santo Amaro
- Ontem alunos deram apoio ao professor e aos assessores exonerados. Eles acham que houve exagero na medida, apesar de, segundo a apuração da Secretaria, ele ter cometido irregularidade.
O que ele fez de errado
- Todo livro didático comprado pelo MEC e doado às escolas públicas é patrimônio público e deve ser usado por pelo menos 3 anos.
- Depois disso, pode ser doado para instituições e até ser vendido para sebos e reciclagem, mas após concorrência, o que não aconteceu.