
Não importa se o Centro de Porto Alegre ferve ou é tomado de calmaria, Alexander Maciel, 34, segue seu ritmo. Este ano, passaram a Copa, eleições e muitas histórias entre o vai e vem frenético de uma das regiões mais movimentadas da Capital. Mas, para o Gaúcho Prateado, estátua viva que se apresenta na Rua da Praia, 2014 foi um ano "meio parado".
Uma das ironias no trabalho de Alexander, que vive pelo menos quatro horas por dia em câmera lenta, é observar, há 12 anos, o caminhar apressado dos passantes. Sobre o púlpito na Esquina Democrática, ele viu 2014 passar devagar. Para quem permanece imóvel sob o sol escaldante das tardes de verão da Capital, os minutos são mais longos, mesmo em meio àquela correria.
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Alexander lembra de tudo, mas não com muitos detalhes. Entre os bilhetinhos com mensagens motivacionais que entrega para quem deixa qualquer colaboração, fica minutos sem piscar, olhando em direção à Praça da Alfândega. Uma estátua não pode virar o pescoço, nem descer do pedestal para buscar informações e entender melhor o que está acontecendo.
- Como meu trabalho é estático, não sei como foi nos outros lugares, mas aqui ao redor da Esquina Democrática foi praticamente parado - diz.
Na Esquina Democrática, centrais sindicais se reuniram em maio para protestar e gritar que não haveria Copa. Mas nada perto do que foram os protestos de 2013. Pensando um pouco mais, o artista lembra que o diferencial de 2014 foi, justamente, que teve Copa.
- Foi muito legal. Muitos torcedores, vários povos. O carinho do pessoal que veio para a Copa foi único, incrível. E a nossa atitude, a recepção que demos a eles, foi muito bem vista - lembra Alexander, que abriu uma exceção ao traje completamente prateado para vestir a camisa da Seleção Brasileira durante o Mundial.
Pelo "Caminho do Gol", nos 4,5 quilômetros que separam o Mercado Público do estádio Beira-Rio, passaram argentinos, australianos, holandeses, argelinos, nigerianos, alemães, franceses. E milhares de gaúchos. Entre eles Alexander, bastante prata, um pouco verde e amarelo.
As ruas se "acalmaram" por pouco tempo depois que os turistas foram embora e o Mundial acabou. Entre agosto e outubro, outras as bandeiras balançaram na esquina da Rua da Praia com a Borges de Medeiros. Na junção das duas ruas, os militantes de candidatos aos governos do Estado e do País se misturaram com bonecos gigantes de um deputado estadual que concorria à reeleição, panfleteiros de todos os partidos, carros de som e até mesmo à própria presidenta Dilma Rousseff:
- Eu apertei a mão dela quando passou por aqui - diz Alexander, ao revelar um pequeno deslize profissional: às vezes ele se mexe.
No ano que pareceu "parado" para a estátua, teve colorados comemorando goleadas no começo e gremistas vibrando com o 4 a 1 no fim. E histórias tristes, tão frescas na memória quanto a tinta prateada que ele passa no corpo.
- Semana passada, uma lotação atropelou um senhor de idade. Tem dessas coisas - diz com a voz embargada.
Mas, em meio às tristezas, Alexander agradece e acredita em um 2015 melhor. Como manda a mensagem escrita em um dos bilhetinhos que entrega para quem passa pela estátua da esquina:
"Confie em dias melhores. Você cresce quando crê em si e põe em ação o vigor de sua vida."
*KZUKA