Um dos três ministros que passaram por Santa Catarina nesta semana, Aldo Rebelo, titular do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, conversou com a reportagem do DC na quarta-feira. Ele comenta como o investimento em inovação pode ajudar o país a superar a turbulência econômica atual, defendendo que o Brasil é o terceiro maior destino de investimento do mundo.
Sobre Santa Catarina, teceu muitos elogios sobre como o Estado é referência em tecnologia e menos refém dos humores da economia do país. O ministro também destaca os investimentos projetados para a área de inovação.
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A inovação costuma ser uma solução contra a crise, mas a pasta do senhor sofreu cortes no orçamento. Não valeria ter feito o inverso?
Conceitualmente, todo recurso destinado à inovação é, na verdade, um investimento. Está provado que todo recurso com inovação projeta um crescimento da economia e, portanto, de empregos, renda e tributos. Mas quando você faz um ajuste termina tirando recursos também da educação, da saúde. Fica difícil excluir alguma atividade. O que eu discuti com os ministros da área econômica foi que nós deveríamos, no meio do ajuste, projetar a recomposição do orçamento do ministério e discutir também com a presidente Dilma Rousseff. Essa recomposição do orçamento é o descontigenciamento dos chamados fundos setoriais ou do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que é o que sustenta o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, destinando a varias áreas da pesquisa que nós, ao regulamentarmos os 50% de recursos vindos do pré-sal que não foram regulamentados - 50% foram destinados à educação e saúde e 50% estão para ser regulamentados. Eu pedi para que fosse priorizado o setor de ciência e pesquisa nos 50% restantes do pré-sal. A presidente concordou e pediu que eu enviasse uma proposta. Já fiz e já enviei.
O senhor ouviu falar dos 13 centros de inovação que o governo de Santa Catarina está implantando? O governo solicitou algum tipo de recurso?
Tem oito em fase de conclusão e cinco começam a ser construídos. Isso nos facilita porque nossa orientação é trabalhar com os Estados. Aqui em SC já tem uma cultura de inovação, iniciativas do governo do Estado e de organizações sociais. Quando se tem tudo isso, o governo federal apoia com mais facilidade e para isso tem a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que nos últimos anos colocou em SC R$ 70 milhões. Hoje, está acertando com o Banco Regional mais R$ 10 milhões. A Finep financia ou subvenciona e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) entra com bolsa e subvenção. O que nós precisamos é construir com o Estado a forma de apoio que o governo federal pode dar.
Santa Catarina já foi um dos poucos Estados a ter um escritório da Finep, ao lado do Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro. Mas segundo empresários do setor, há mais de cinco anos, foi fechado. Isso não dificulta o investimento em pesquisa no Estado?
O governador (Raimundo Colombo) me pediu a reabertura do escritório da Finep. Isso foi uma das coisas que ajudou o Estado a dar um primeiro salto na área de tecnologia e há 5 anos esse escritório está fechado. Eu vou ver porque ocorreu isso, eu não sei também porque foi aberto. Eu sei que nesse período em que esteve aberto, o objetivo foi alcançado, porque o Estado se tornou o segundo do Brasil em destino de recursos para inovação. Então, a experiência prática mostrou que a iniciativa funcionou.
Como o senhor avalia a situação de SC no setor de inovação do país?
A inovação educa, ajuda a criar no setor público e no privado uma mentalidade inovadora. A inovação não é apenas a atividade do empresário que busca um novo processo, produto ou serviço. Mas está em tudo o que você faz. Quando se tem a mentalidade, não é apenas do empresário. O serviço público também, com medidas na área da saúde que você adota, por exemplo, na incorporação da tecnologia da informação, você reduz o tempo de atendimento, você facilita a vida das pessoas. Essa mentalidade é que o país precisa ter e acho que SC tem esse traço. É um Estado que tem na diversidade de sua economia empresas gigantescas na área de alimentos, mas também um colchão de pequenas empresas que empregam muito e inovam muito. E quando chega uma situação de ajuste como essa que estamos passando, o Estado tem melhores condições de enfrentar.
As universidades brasileiras estão aumentando o número de pesquisas, mas isso não tem sido suficiente para colocá-las entre as 100 melhores do mundo. Como melhorar?
Tem que ter mais dinheiro para o sistema. Ciência e pesquisa precisam de continuidade. Quando é interrompida, volta à estaca zero e a obsolescência em desenvolvimento científico e tecnológico acontece com uma rapidez cada vez maior. Então formam-se mestres que precisam de laboratórios para dar continuidade à pesquisa, por isso precisa-se juntar universidade com atividade produtiva existente no país para que o conhecimento gere inovação.
E como o senhor lê o cenário político atual?
Eu desconfio que o momento mais complicado foi superado, embora a política tenha sempre nos surpreendido. Mas acho que nós temos hoje todas as condições de enfrentar essas turbulências com mais tranquilidade, com instituições que funcionam, com as forças políticas agindo com mais responsabilidade. O que temos é uma confluência de dificuldades econômicas, de dificuldades produzidas no mundo político por conta de uma investigação que atinge o mundo político duramente, investigação que envolve presidência de Senado, de Câmara, ex-ministros, partidos políticos e que a cada dia desestabiliza uma parte desse mundo político. Temos dificuldades econômicas e não só do país, há dificuldade no mundo, na China, na Europa.
E esse quadro dá uma aparência de dificuldade generalizada. Mesmo com essa dificuldade, o Brasil continua sendo o terceiro maior destino de investimento do mundo, não teve sua nota rebaixada como alguns previam, por ser um destino importante de investimento, por ter uma base física composta por uma fronteira agroindustrial que não está em crise.
Como podemos aplicar a inovação nos principais produtos que exportamos, para não ter nos próximos 10 anos apenas soja e ferro na liderança das exportações?
Para isso temos que apoiar esses centros tecnológicos. E o governo federal vai fazer um parque de agricultura tropical em Brasília junto à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Nós já exportamos a soja transformada, já exportamos o frango e o suíno in natura, já exportamos processados. Essa economia está em transformação e acho que isso vai se sofisticar à medida que o Brasil vai obtendo as certificações necessárias para exportar esses produtos processados. E isso exige inovação.