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No Presídio Regional de Pelotas, casinhas para cachorros que vivem nas ruas são construídas pelas mãos de quem conta os dias para retornar à liberdade. Desde abril, detentos que trabalham na marcenaria da penitenciária são encarregados de erguer casas para os animais sem lar da cidade. Cerca de 60 unidades já foram distribuídas.
A proposta partiu dos estudantes de direito Juan Lopes e Jéssica Bastos, ambos de 24 anos. Em fevereiro deste ano, eles deram início ao projeto Meu Cão, Minha Vida, criado com o objetivo de construir lares para os cães que perambulam pelas ruas de Pelotas. Juntos, os jovens confeccionaram algumas unidades, mas o início das aulas impediu que se dedicassem ao projeto.
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Para que não morresse antes de dar frutos, o projeto ficou sob nova responsabilidade. Reconhecido por incentivar que os presidiários de Pelotas ocupem as horas de reclusão com trabalho, o diretor da penitenciária, Fluvio Bubolz, foi intimado pelos estudantes a dar continuidade à construção dos lares.
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Desde então, três homens que cumprem regime fechado no presídio incluíram a confecção das casinhas entre as tarefas na marcenaria. Condenados por crimes como tráfico, estupro e homicídio, eles terão a sentença reduzida pelo serviço. A cada três dias de trabalho, um é diminuído da pena.
– Tem muita gente que diz: "ah, o preso tem que ficar encarcerado". Não. Ele tem que trabalhar – diz Fluvio.
Quando as casas ficam prontas, são espalhadas pela cidade e ficam sob vigília dos moradores. Segundo Juan, que ainda coordena a distribuição das unidades, unir a causa animal à recuperação dos criminosos ganhou a simpatia da comunidade. São os moradores que doam madeira, pregos e telhas para que os presidiários garantam lar aos animais de rua.
– É um modo de educar os presos, ocupar a cabeça deles – diz o estudante.
Dos 1.119 detentos do Presídio Regional de Pelotas, 57 deles fazem algum tipo de trabalho. Os que cumprem regime fechado devem realizar atividades dentro da penitenciária, como na horta do local, que produz alimentos para instituições de caridades. Quem cumpre regime aberto pode ultrapassar os muros da prisão e fazer a manutenção das unidades básicas de saúde (UBS) de Pelotas.
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A seleção de quem vai colocar a mão na massa é feita pelo próprio diretor do presídio.
– Quando escolho para trabalhar, não vejo o crime. Olho no olho da pessoa e vejo: se quiser trabalhar, eu boto trabalhar – diz Fluvio.
Dizer que o tipo de violação não influencia na escolha é uma forma de evitar julgamentos precipitados. Fluvio confessa que, na hora da decisão, acaba preferindo homens mais velhos, principalmente os condenados por crimes sexuais.
Excluídos do convívio no presídio pelos outros detentos, que desprezam o tipo de delito, esses homens tendem a ficar menos propensos à recuperação. As oito horas de trabalho braçal, garante o diretor, são capazes de reanimá-los.
– Eles se sentem valorizados – diz Fluvio.