Ao deflagrar a Operação Carne Fraca, o Brasil deu de bandeja aos produtores europeus o argumento que precisavam para tentar barrar a entrada do produto brasileiro. União Europeia e Mercosul estão com um acordo em negociação, pelo qual poderiam ser ampliadas as cotas de carne com tarifa reduzida enviadas ao bloco. A medida não era vista com bons olhos por países que tentavam proteger a sua produção. Tanto que, dos 28 integrantes, 12 já haviam se posicionado contra incluir a carne na mesa das conversações.
Agora, a pressão, principalmente da Irlanda, é total para que haja um bloqueio às importações da empresas que estão sob suspeita.
– Isso é uma forma de aproveitar a situação. Por outro lado, não se pode deixar de considerar que há um problema que foi detectado no país – observa o consultor em agronegócio Carlos Cogo.
O consultor Fernando Velloso também vê uma porção de protecionismo na postura dos europeus. Mas ressalva que as falhas apontadas em indústrias na ação da Polícia Federal, ainda que sejam pontuais, e não generalizadas do setor, acabaram dando munição aos países do bloco:
– Para a União Europeia é uma moeda de troca. Mas tem um argumento técnico para barrar nosso produto. Mesmo que tenha sido um número restrito de fiscais envolvidos no esquema de corrupção, eles têm como questionar a seriedade de inspeção.
As notícias amplamente divulgadas, com diferentes informações – nem sempre com precisão, diga-se de passagem – atravessaram o Atlântico e chegaram também ao Velho Continente. O prejuízo de um eventual embargo para a UE seria considerável, sobretudo para a indústria que trabalha com carnes nobres. Embora não seja o maior comprador em volume – em 2016, o bloco respondeu por 4,83% das importações mundiais de carne bovina –, o bloco mira em compras de maior valor agregado.

Se as suspensões começarem a se enfileirar, o Brasil terá um sério problema de mercado pela frente. Chile, China e Coreia do Sul anunciaram a suspensão das compras – o primeiro total, os outros dois parcialmente.
– Vamos colher um prejuízo comercial enorme – afirma Velloso, estimando, no entanto, que esse cenário é possível de ser revertido a médio e longo prazo, porque há uma dependência comercial desses países.
Por parte das indústrias, há uma evidente apreensão com as perdas que poderão ocorrer.
– Nossa preocupação é com mais de 6 milhões de trabalhadores brasileiros, que atuam nesta cadeia de produção de carnes bovina, suína e de aves. Estamos em uma missão patriótica, em defesa da indústria de proteína animal, que embarca anualmente 262 mil contêineres para 160 países, gerando uma receita que representa 15% do total das exportações brasileiras – afirmou Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal.