
Não foi só o olhar pidão dos cachorrinhos de rua que fez Ezequiel Nunes, de 36 anos, tomar uma atitude. Apaixonado pelos animais desde criança, ele cansou de ver os cães dormindo no relento depois de serem abandonados por alguém e decidiu mostrar aos bichanos que a humanidade também tem sua dose de bondade. Assim, nos últimos dois meses, Ezequiel começou a construir e instalar casas nas ruas de São José, na Grande Florianópolis, para que qualquer cão possa se abrigar do frio e da chuva.
Tudo começou há cinco anos, quando Ezequiel criou nas redes sociais o grupo Projeto Amiguinhos Indefesos para unir interessados em ajudar e levar ração e água para os bichinhos. A coisa evoluiu e, em 2016, ele começou a construir e instalar bebedouros e comedouros públicos para os animais de rua.
– Eu amo os animais desde pequeno. Queria achar algo para fazer o bem para eles, então comecei fazendo comedores e bebedouros. Depois disso, andando pela cidade, vi que muitos dormiam no frio e tive a ideia de fazer as casinhas – conta.
Todo o trabalho é feito voluntariamente. Por meio das redes sociais, Ezequiel angaria doações de materiais, como madeira, telhas, tinta, cobertores e ração, e depois coloca a mão na massa. Na última terça-feira, Ezequiel instalou a 12ª casa, chegando ao número de 27 animais atendidos diretamente.
– A maioria das casas que faço são duplas ou triplas, por isso já foram atendidos 14 cães no bairro Ana Clara, cinco no Tarumã, quatro em Areias, dois em Zanelato e dois na Beira-Mar de São José. Além disso, já são mais de 50 bebedouros e comedouros instalados – afirma.
Quando chegou ao bairro Ana Clara para instalar mais uma casinha, os cachorros da vizinhança sentiram de longe sua presença e começaram a seguir o velho Uno branco.
– Esses cachorros perderam o medo de humanos. Se a gente faz o bem, eles te valorizam em forma de carinho. Me dá muita alegria trabalhar com eles, a gente se sente bem fazendo isso – comenta.

Segurança
Nem mesmo aos olhos mais desatentos as casinhas passam batidas. Grandes, elas estão instaladas em esquinas ou entradas de terrenos baldios, com fácil acesso e à vista de toda a comunidade. Mesmo assim, a questão de segurança passa longe das preocupações de Ezequiel.
– Não precisa prender as casinhas, porque são muito pesadas. Não é qualquer pessoa que vai parar ali e levar uma casinha, ainda mais com o símbolo do projeto, arriscando alguém ver e denunciar para a polícia – afirma.
O único episódio negativo aconteceu no mês passado, no bairro Tarumã. Certo dia, Ezequiel foi repor água e ração em um dos abrigos construídos, mas se deparou com os escombros de um incêndio.
– Tocaram fogo em uma das nossas casinhas. Achei injusto, porque a gente tem um baita de um trabalho para fazer as coisas bem feitas, aí chega uma pessoa infeliz, de mau coração, e destrói tudo. A pessoa levou uma garrafa de gasolina e colocou fogo. Se não quer ajudar, pelo menos que respeite – critica.
Exemplo
Em casa, no bairro Jardim Cidade de Florianópolis, Ezequiel tem três cachorros, todos adotados na rua: Bob, Duque e Mãezinha. Foi no seio familiar que o voluntário aprendeu a amar os bichanos e a passar os ensinamentos adiante, agora para sua filha Naiane, de 10 anos.
– Quando criança, eu já amava os animais. Assim como, desde pequena, minha filha também ama. Eu sou o exemplo dela, assim como os meus pais foram para mim. Sempre me disseram que temos que amar e cuidar dos animais, independentemente se está na nossa casa, se é um cachorro, um cavalo ou uma vaca – conta.
Crítico ferrenho da compra de animais, Ezequiel acredita que, com tanto cachorro abandonado nas ruas, não há justificativa plausível para a compra de um bichano em uma loja.
– Enquanto você compra um animal, tem uns 20 morrendo na rua. Aí eu pergunto, que amor é esse que as pessoas têm? A pessoa paga R$ 1 mil, R$ 2 mil em um cachorro, mas vê um na rua e não faz nada – lamenta.
Conscientização
Outro foco do Projeto Amiguinhos Indefesos é a conscientização. Não apenas construir casas, bebedouros e comedouros para os cachorros de rua, mas tentar ajudar a evitar que os bichinhos sejam abandonados.
– Esse trabalho que fazemos só existe devido ao grande número de abandonos, senão não precisava fazer. Claro que é um trabalho bonito, mas seria muito mais bonito se as pessoas se conscientizassem e não abandonassem os animais – comenta Ezequiel.
Abandono é crime!
Desde 1998, quando foi sancionada a lei federal 9.605, é considerado crime abandonar ou maltratar animais, com pena prevista de três meses a um ano de detenção e multa. Além do maltrato ao animal, o abandono pode causar diversos problemas, tais como superpopulação (pela falta de castração), transmissão de doenças (muitos cães e gatos de rua reviram lixo) e até ataques a pedestres.
Portanto, não abandone aquele cão ou gato que nasceu de surpresa ou que envelheceu e perdeu o encanto inicial. Procure alguém que possa cuidar do bichano, não é difícil. Para quem quer adotar um cachorro, o Canil São José tem diversos bichinhos simpáticos esperando alguém disposto a dar carinho e um lar. Acesse a página e saiba mais.