
Quase perdidos na palha dentro de um carrinho de mão, dois minúsculos borregos nascidos ao meio-dia de ontem curtiam à tarde as primeiras horas de vida imóveis, encolhidos do frio.
Nem mesmo chamavam a atenção de crianças e adultos que passavam por ali.
Mas a mãe deles estava de olho. Ovelha de dois anos, Violeta 140 veio da Cabanha Linha 28, de Gramado, e pariu no domingo de chuva em Esteio. Como Violeta desfilaria no julgamento da raça suffolk, as crias se exibiriam junto.
Foi o que ocorreu. Na hora das notas, os pequenos ainda sem nome tiveram de ser carregados no colo de uma auxiliar. De tão frágeis, nem tinham como seguir ao pé da ovelha.
- Vou cuidar deles como cuidei da velha - prometeu o garoto Lucas Wolff, de 12 anos, orgulhoso de ver sua contribuição na cabanha do pai porque, afinal, é ele quem apruma os cascos, aplica injeções com a destreza de um adulto e se prepara para a tosquia, que é quando as ovelhas tiram os casacos para o verão.
Para encharcar menos a lã, os julgamentos de suffolk e texel ocorreram em meio aos acampamentos dos bovinos. Entre angus, devons e zebuínos, senhores de jalecos brancos davam notas conforme a passagem dos exemplares tocados por seus cabanheiros e mal davam atenção aos recém-nascidos, que já começavam a protestar berrando de fome.
Um jurado inglês, Michael Weaver, especialista em suffolk, veio a Esteio para conferir o padrão da raça voltada para a produção de carne. Tanto suffolk quanto texel fornecem a carne que vem se valorizando em restaurantes e em casa. Mas Weaver está preocupado se os animais expostos na Expointer, que são especiais, vão repassar suas características ao rebanho destinado ao consumo.
Presidente da associação dos suf-folk, o paulista Bruno Moreira, da Cabanha Leone, quer animais capazes de produzir uma boa carcaça de 16 a 18 quilos de carne desossada, com o marmoreio (gordura entremeada na carne) e a maciez que os nobres ingleses exigiram ao longo da história da região de Suffolk, na Grã-Bretanha. É o mesmo caminho dos texel. A meta é aumentar o consumo médio de 400 gramas por habitante/ano no Brasil - baixo para a média mundial de dois quilos. Daí porque Weaver desfila as botas por aqui.
Comprimento de fio chega a 10 cm
Sobre uma mesa do corredor dos ovinos, os cabanheiros Oli e Patrício Barbosa alisam a carapuça de lã de uma ovelha da raça ideal da Cabanha Santa Ângela, de Uruguaiana. Abrindo bem a lã, eles esticam fios de até 10 centímetros de comprimento. No frio do inverno, essa lã ajuda a esquentar as ovelhas.
Quando começa a esquentar, entre o final de setembro e o início de outubro, elas podem ser aliviadas desse casaco que já nasce com elas: é a temporada da tosquia. Técnicas modernas que funcionam como uma tosa para cães de estimação devem render de sete a oito quilos de lã por animal. A produção passa pela cooperativa e depois é vendida à indústria do vestuário.
- A lã que se usa contra o frio está aqui, no lombo da ovelha - ensina o criador Patrício.
Para facilitar o caminho da lã do corpo das ovelhas para os casacos, o Banrisul anuncia hoje em Esteio incentivos para a ovinocultura. O banco gaúcho negocia com a empresa Paramount Têxteis a emissão de um limite de crédito de notas promissórias rurais para compra de lã dos criadores de ovinos do Estado.