Quando as primeiras fraudes no leite vieram à tona, há um ano, a responsabilidade pelo problema foi terceirizada. Era no caminho até a indústria que a adulteração ocorria, justamente no ponto em que freteiros autônomos sem qualquer vínculo com as empresas assumiam o controle.
Com a prisão dos proprietários da Pavlat e da laticínios Hollmann, cai por terra a imunidade que poderia existir no processo industrial. Houve uma ação direta na adulteração. Claro, não se pode colocar um rótulo único para todas as empresas gaúchas - há sim, muita gente séria trabalhando para garantir um produto seguro.
Agora, só as cooperativas mantêm o status de livres de fraudes. Seguem as mesmas normas do que as demais indústrias. Mas talvez o diferencial esteja no processo. A começar pelo transporte: os caminhoneiros, mesmo que terceirizados, são cadastrados e, em alguns casos, chegam a usar uniformes.
- Se for detectado um problema na plataforma, todos os produtores que entregaram leite para aquele caminhão perdem. Por isso, existe um mecanismo de controle recíproco. Um produtor é fiscal do outro - pondera Vergilio Perius, presidente da Organização das Cooperativas do Estado (Ocergs).
Outra diferença aparece na natureza jurídica das cooperativas.
- Os associados produzem para a cooperativa, são os donos do produto - acrescenta Gilberto Piccinini, presidente do conselho administrativo da Dália, marca da cooperativa Cosuel, e também presidente do recém-criado Instituto Gaúcho do Leite.
Dos cerca de 11 milhões de litros de leite produzidos diariamente no Estado, mais de 50% vêm de associados de cooperativas, segundo a Ocergs. As cooperativas seriam, então à prova de fraudes?
- São mais imunes - avalia Perius.
O consumidor certamente está cansado de, a cada nova operação do Ministério Público, novos ingredientes se adicionam à composição do leite.