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O crescimento do desemprego e a queda da renda no país tornaram impossível para as indústrias de carne suína e de frango repassar para o consumidor toda a pressão causada pelo aumento do custo de produção, provocada principalmente pela escalada do preço do milho. Enquanto a cotação do cereal praticamente dobrou em um ano, o impacto nas gôndolas dos supermercados foi bem menor, mostram os número do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do Brasil, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A dificuldade maior é da suinocultura. Enquanto o índice geral subiu 9,32% em 12 meses no país até maio, a alta da carne suína foi de apenas 1,72% no período. No caso do frango inteiro, o repasse foi de 15,1%, mas mesmo assim abaixo do ritmo de aceleração dos custos.
O presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Nestor Freiberger, avalia que, apesar da crise instalada no país dificultar o repasse, a continuidade do quadro deve determinar novos reajustes para o consumidor.
– É insustentável do jeito que está. Se essa situação continuar teríamos de repassar pelo menos 20% para o varejo, apesar de, do lado de lá, a população estar com poder de compra menor. Acontece que a conta não fecha – observa Freiberger, lembrando que a carne de frango é a mais barata à disposição dos brasileiros e, mesmo assim, o consumo per capita no país deve ficar estável este ano, em torno de 44 quilos.
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O diretor executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos do Estado do Rio Grande do Sul (SIPS), Rogerio Kerber, também avalia que a situação está inviabilizando o setor. Com os custos da cadeia em alta e a perda do poder de compra da população, as duas pontas – produção e consumo – estão desconectadas.
– É uma situação estrutural do país e isso não muda de uma hora para a outra. O desemprego compromete a renda familiar a e, ao mesmo tempo, a inflação e os preços dos alimentos seguem em expansão. Quem vai ao supermercado percebe isso – conclui Kerber.
Apesar do cenário adverso também pelo lado da demanda, as perspectivas são de continuidade das dificuldades e os repasses de preços devem ser inevitáveis. O avanço das exportações também não tem se mostrado suficiente para enxugar o mercado interno. Kerber lembra que, em regra, apenas 15% do que se produz de um animal depois de abatido vai para o mercado externo. Como o Rio Grande do Sul não é livre de febre aftosa sem vacinação, as indústrias gaúchas não podem, por exemplo, exportar carne com osso.
A zootecnista Juliana Pila, analista de mercado da Scot Consultoria, observa que, semana passada, os preços dos suínos e aves nas granjas de São Paulo apresentaram alguma reação e, com as baixas temperaturas dos últimos dias e a chegada do inverno, é possível esperar alguma retomada no consumo de proteína animal no país.