José Roberto Pires Weber, presidente da Associação Brasileira de Angus (ABA)
O Brasil está trilhando um novo plano de retirada da vacinação contra a febre aftosa. Quem acompanha o setor sabe que não foram poucos os projetos nesse sentido desde o fatídico caso de Joia, no início dos anos 2000. A questão é que o assunto sempre suscita discussão entre os pecuaristas e, geralmente, pouco consenso. Isso porque vacinar é trabalhoso e caro,é verdade. Mas oferece garantias ao produtor. Traz segurança de que seus animais se manterão saudáveis e não precisarão ser eliminados da noite para o dia devido a um foco da doença.
Para quem trabalha com genética, essa preocupação é ainda maior. Afinal, os animais que temos em campo são resultado de décadas de melhoramento. Um refino que não se obtém de uma hora para outra, mas que avança de geração a geração. É por este e muitos outros motivos que a Associação Brasileira de Angus emitiu, nos últimos dias, nota contrária ao processo de retirada da imunização que vem sendo proposto pelo Ministério da Agricultura. O texto repercutiu bem entre criadores e associados. A maioria se nega a enfrentar a ameaça de ter seu rebanho sacrificado e nem mesmo ter uma indenização pelo valor zootécnico diferenciado desses exemplares. Mais importante do que isso é se considerar que esses animais não têm preço. São resultado de uma vida inteira no campo e, em muitos dos casos de associados da angus, herança de antepassados. O que não quer dizer que os criadores gostam de vacinar todos os anos seus plantel, mas que é um mal necessário.
Se a simples ameaça de perder esses animais já gera controvérsia, o assunto ainda ganha peso quando os benefícios desse processo não são visíveis. O Brasil provou que não precisa do status de país livre de febre aftosa sem vacinação para conquistar o mercado externo. Mesmo vacinando, o país conseguiu abrir clientela nas mesas mais exigentes do mundo. A angus hoje exporta carne premium para o mercado alemão, asiático e aos países árabes. As cargas embarcadas aumentam ano a ano, acompanhando o ritmo do programa de certificação que, mesmo em tempos de crise, se mantém com abates sólidos e em expansão. Neste mês de novembro, chegou às gôndolas dos supermercados brasileiros um novo produto angus. É a carne certificada com o selo Gold, um salto no mercado premium. Com essa iniciativa pioneira da associação, em parceria com a VPJ, o Brasil passa a ter o primeiro projeto de avaliação de carne em escala comercial, o que completa o processo de análise de carcaça, que já vem sendo feito há mais de uma década.
Se mesmo vacinando os pecuaristas brasileiros já alcançaram importantes mercados, é importante questionar a utilidade de retirada da imunização neste momento. Por que colocar todas essas conquistas em xeque? Em tempos de crise, a prudência pede para minimizar riscos. E é isso que defende a Associação Brasileira de Angus. O que não quer dizer que não se possa galgar essa conquista mais adiante. Mas o momento não é esse. Precisamos de tempo para um alinhamento real com nossos parceiros do Mercosul e recursos para investir em um sistema de vigilância de ponta nas fronteiras secas. Afinal, avançar nem sempre significa seguir necessariamente em linha reta. Às vezes, o caminho mais tortuoso e demorado é o mais seguro e capaz de conduzir ao sucesso.