Economizar no lanche do colégio para ir ao cinema? Cada vez que um jovem decide como tirar o máximo proveito da mesada toma uma decisão econômica. Entender como isso funciona é fundamental numa época em que economias fortes são sacudidas por crise porque países não seguiram um velho conselho de mãe: não gaste mais do que ganha.
A geração que apenas ouviu falar da inflação agora é alvo de iniciativas de educação financeira. De um lado, bancos e empresas querem se aproximar dos futuros clientes. E na Assembleia, tramita projeto para incluir a educação financeira no Ensino Médio.
Para chegar na gurizada, a regra é encontrar uma linguagem simples e falar do que interessa. Projetos como o Desafio Banrisul, que visita escolas no Estado em parceria com o Kzuka, atraem a atenção de alunos com jogos e prêmios (foto). Em abril, Lucas Muniz, Daniel Lopes e João Pedro Miranda, 16 anos, foram os primeiros colocados do game no Colégio La Salle São João, na Capital. Levaram um mp4, uma mochila e uma bola.
Na largada do jogo, os garotos receberam simbolicamente R$ 100. Ao longo das casas no tabuleiro montado no pátio da escola, podiam perder ou ganhar mais dinheiro, conforme decidiam sobre temas cotidianos como o racha para o churrasco da turma, o presente da namorada...
Jogo estimula o aprendizado
Os participantes reconhecem que jogo tem tudo a ver com o cotidiano deles. Na hora de comprar um presente para um aniversariante, por exemplo, costumam dividir a despesa e cada um dá R$ 10 para "fechar legal".
Para eles, ter o próprio dinheiro é importante. Não tem problema se tiver de deixar de fazer algo para investir em alguma coisa melhor depois. Daniel, que teve a mesada cortada por castigo dos pais, indica a que ponto a poupança pode chegar: em vez de usar o dinheiro do lanche no bar do colégio, guarda.
- Em compensação, gasto depois em coisas melhores - conta.
O Conselho Regional de Economia (Corecon-RS) deve assinar, nos próximos dias, um termo de cooperação com a Secretaria Estadual da Educação para fazer um concurso de redação sobre o tema.
- O concurso será um raio X para sabermos como os jovens enxergam o tema - diz o coordernador da comisssão de Educação Financeira do Corecon-RS, Everton Lopes.
Carlos Henrique da Costa Miguel, de 18 anos, aproveitou a afinidade com matemática para aproveitar a chance oferecida pelo Bancos em Ação, programa do Citi e da Junior Achievement que ensina a estudantes do Ensino Médio os princípios do setor bancário e apresenta os desafios de operar um banco em um torneio. Campeão estadual, não levou o título nacional em São Paulo, mas conheceu a bolsa de valores e firmou um conceito importante: a vontade de seguir os estudos para ter mais chances no mercado de trabalho.
- Não existe dinheiro fácil. Por isso abri uma poupança para pagar uma faculdade - conta o estudante, hoje no 3º ano do Ensino Médio, ainda indeciso entre Direito e Engenharia.
Aulas de gente grande
A aprendizagem de matemática costuma ser difícil para a maioria dos alunos.
Logaritmos, geometria, funções: muita matéria complicada para um só trimestre. No Colégio Concórdia Porto Alegre, o conteúdo curricular foi misturado a assuntos de gente grande.
A proposta do colégio foi ensinar os alunos sobre finanças, trazendo para a sala de aula um projeto da XP Investimentos. Dessa forma, os alunos tiveram acesso a conhecimentos sobre função exponencial de uma forma mais fácil e divertida, relacionada ao dia a dia.
O curso foi composto de quatro encontros com profissionais do escritório associado da XP, a POA Investimentos, que pretende levar a iniciativa a outras escolas da Capital. Os alunos conseguiram ter uma noção melhor sobre finanças pessoais, tipos de investimento, bolsa de valores e mais: no final, puderam botar em prática os conhecimentos adquiridos.
Thales Rocha (foto ao lado), 15 anos, destacou-se no processo. O menino, que sonha em ser jogador de futebol, gostou de aprender sobre investimentos e, assim como os outros alunos, começou a aplicar um valor virtual em um site especializado.
No encerramento, por ter sido o jovem que mais "ganhou dinheiro" com compras e vendas das ações, ganhou um curso da XP para aprimorar o que aprendeu.
- Não entendia nada sobre a bolsa, só sabia que existia pela TV. O único dinheiro que ganho é da pensão do meu pai e gasto a grana em almoços na escola e em locomoção. Gostei do assunto e pesquisei mais a partir do que o corretor ensinou - revela o menino.
Questionado sobre se largaria o sonho de boleiro para virar economista, Thales não sabe responder. Mas tem uma certeza: caso se dê bem no futebol, vai saber muito bem como investir as altas cifras que recebem os bons jogadores.