Bilionário, frequentador da fechada e cobiçada lista da Forbes dos homens mais ricos do mundo, com fortuna de US$ 3 bilhões, estrela da nova geração de banqueiros brasileira.
Pai de três filhos, uma "princesa" e dois meninos, que religiosamente todos os dias leva à escola e, depois, parte para jornadas de 15 horas de trabalho quando a coisa "está calma". Jovem, 44 anos, boa pinta, elegante, com inconfundível sotaque chiado dos cariocas. E raciocínio rápido. Muito, muito rápido.
Tudo isso - e bem mais - cabe para definir o empresário, radicado em São Paulo, André Esteves. CEO do maior banco de investimentos independente da América Latina, o BTG Pactual, responsável pela gestão de mais de R$ 130 bilhões em fundos sob sua administração e presente em alguns dos grandes negócios fechados no país nos últimos anos, Esteves já foi escolhido como um dos cem brasileiros mais influentes.
Figurinha tarimbada no mercado financeiro, ambicioso, workaholic de carteirinha e adepto do risco, mas com algumas, aparentes, pelo menos, contradições. Fica até um tanto difícil de entender seu lema de ser "bom em ganhar dinheiro, não em gastar" e modos espartanos para quem fez seu primeiro US$ 1 bilhão aos 37 anos.
Pizza é um dos pratos preferidos. E as férias são de apenas duas semanas por ano.
Claro que hoje está incorporado a hábitos mais refinados, como coleções de arte e vinhos finos, mas certo mesmo é que sua carreira meteórica se deve justamente a ele próprio.
De classe média, o ex-morador da Tijuca ingressou como estagiário no Pactual, para onde ia de ônibus, subiu, virou sócio minoritário, liderou o movimento de saída do então controlador do banco. Depois, o analista de sistemas vendeu a instituição para o suíço UBS e não parou: recomprou-a três anos mais tarde.
Se parece pouco, vem mais por aí para o líder de 1,3 mil colaboradores no Brasil e no Exterior, conhecido pela ousadia e por nunca - nunca mesmo - pensar pequeno. Com bom trânsito no governo, e ele não poupa elogios a Lula, Dilma e Fernando Henrique, o sócio de Pérsio Arida conta um pouco do que falta ao Brasil para, como ele, também alcançar posição de destaque inquestionável no cenário internacional.
Em meio a contatos com investidores gaúchos, na semana passada na Capital, Esteves parou um tempo para conversar com ZH. Quando deu o que pressupõe ser uma receita eficaz para o país. Para liderar, claro, como você lerá na entrevista a seguir.
Vento contra
Crescimento ainda não chegou, mas parece que irá chegar. A série de medidas adotadas pelo Brasil está na direção certa, como o estímulo monetário que bate na atividade.
A economia, sem desequilíbrio macroeconômico relevante, deverá responder aos estímulos, mesmo a gente sofrendo vento contra do cenário internacional. É claro que, no ano, o crescimento não passará de 1,5% a 2%, baixo para o potencial do Brasil. Mas, em 2013, 4% são factíveis.
O que falta mexer?
A gente não deveria buscar grandes mágicas. O governo está com diagnóstico certo. O constrangimento ao crescimento é excesso da carga tributária e os gargalos da infraestrutura no curto e médio prazos. Está muito claro que o Brasil arrecada demais, que sufoca a competitividade. No longo prazo, podemos adicionar a educação nesta equação.
Entulho burocrático
Além da desoneração e de trazer o setor privado para as concessões, gostaria de ver a volta da agenda microeconômica. O Brasil ainda tem entulho burocrático. E a gente abandonou um pouco essa agenda para focar em ações grandes. Mas foi bem boa: criou a alienação fiduciária, a Lei de Falências e o crédito consignado.
O barco no tsunami
O tsunami monetário está aí, não é fantasia ou frase de efeito do governo. O Fed, liderando outros bancos centrais do planeta, fez medidas de relaxamento monetário num volume jamais visto no mundo moderno. São remédios agressivos para tentar domar a espiral de crescimento negativo. É claro que há impacto global. Aqui, estamos arrumadinhos, mas o nosso barquinho sofrerá consequências do tsunami.
Crise longe de acabar
Ainda está longe o fim da crise mundial. O epicentro da crise continua na Europa e, a novidade, foi a desaceleração da China, com consequências no Brasil. O cenário provável é uma pausa em 7%, o que se deve encarar com certa naturalidade. Se ficar por aí, o mundo estará acomodado. É bom lembrar que os EUA crescem 2%, 2,5%, com 8% de desemprego. Poderia ser melhor, mas não perderam inovação, qualidade de sua educação e mobilidade social.
E o Banco Central Europeu, mais atuante, ajudou muito na coordenação do combate à crise. Os governos dos países mais frágeis são bons, o risco financeiro caiu bastante. Agora, o risco é sociopolítico.
Juro baixo vai ficar
Sem dúvida, veio para ficar, mas temos de dissociar o momento de hoje de política monetária expansionista com a redução estrutural do juro. Estamos no fim do ciclo de relaxamento monetário, que pode ter parado ou ter ainda corte de 0,25 ponto percentual.
Como estamos crescendo pouco, é hora mesmo de usar política agressiva. Não se deve ter vergonha de usar juro. Quando cresce menos, afrouxa. Quando está aquecida demais, aperta. É bom lembrar, porém, que não deveria demorar tanto a chegada efetiva da queda do juro no consumidor.
Foi a inadimplência que atrapalhou isso. A expansão de crédito foi acelerada e acabou em natural pico de inadimplência, que está caindo. Agora, a queda vai chegar mais ao consumidor.
Ex-querido do mercado
A gente não deve se impressionar demais e nem se pautar pelos humores do mercado, que sofre muitas influências: pessimista em uma hora e, em outra, otimista. Precisamos é montar política econômica consistente, focar sempre no longo prazo, fazer as coisas de forma transparente e técnica. Os investidores vão estar sempre no médio prazo.
Prefiro olhar o indicador do investimento estrangeiro direto, que bate recordes no Brasil. O novo queridinho dos mercados é o México, mas o investimento estrangeiro direto lá é um terço do brasileiro.
Liderança mundial
De uma maneira geral, o interesse dos investidores é resultado de tendência mais duradoura: a transformação do Brasil em país de classe média. Esta é a verdadeira transformação do Brasil. Mas vem mais por aí: liderança em setores no mundo, ao combater custos e burocracia, o que nos dará condição de competir.
Podemos ser líderes globais, como em serviços de óleo e gás. O Brasil tem reservas em escala mundial e tecnologia. Agricultura e mineração também despontam com boas chances para o país liderar no mundo em escala e tecnologia.
Aplicar no Brasil
Onde aplicar? No Brasil. As oportunidades são muito grandes. Não existe fórmula, depende do aplicador, mas o valor das companhias brasileiras hoje não está alto. Há espaço em médio e longo prazos na bolsa. O juro, apesar da redução, remunera bem o aplicador. É bom ter uma cesta diversificada, envolvendo bolsa e renda fixa.
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