Um dos empresários de maior sucesso no país até há pouco tempo, Eike Batista se tornou um fardo pesado de carregar não só para investidores como para o governo. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que nos últimos anos emprestou mais de R$ 10 bilhões para as empresas do magnata, corre o risco de não receber parte do dinheiro de volta, e enfrenta a desconfiança de ter beneficiado o Grupo EBX no financiamento de projetos.
Nos últimos cinco anos, o aumento expressivo na quantidade de empréstimos do banco tem sido alvo de críticas. Entre 2000 e 2012, o volume de desembolso avançou mais de 600%, com o BNDES assumindo papel cada vez mais central na expansão de multinacionais brasileiras e no apoio à política industrial do governo. Para o economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Mansueto Almeida, a falta de clareza dos critérios utilizados pelo banco ao escolher quem receberá crédito arranha a imagem da instituição:
- O banco público deve focar seus recursos em projetos de elevado retorno social, e não individual. Se o projeto é muito bom, mas traz benefício só para a empresa, o empréstimo deve vir de banco privado.
Pesquisa elaborada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) também aponta que o banco perdeu 38% do patrimônio líquido com quedas na bolsa e na política de distribuição de dividendos (a parcela do lucro que é distribuída aos acionistas).
Para o economista Gabriel Leal de Barros, autor do estudo, não faz sentido o banco pagar dividendos ao acionista controlador, o governo, se o Tesouro continua liberando empréstimos para o BNDES manter sua política de crédito. É como se o dinheiro circulasse para voltar às mesmas mãos.
Mas nem tudo são críticas. Cristina Reis, consultora do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), defende a política do BNDES, ressaltando que grande parte dos empréstimos foi para pequenas empresas.
- O crescimento do produto e da produtividade industrial são o motor do desenvolvimento econômico - diz.
Procurado por ZH, o BNDES informou que se manifesta apenas por meio de nota, segundo a qual o estudo da FGV faz leitura superficial de indicadores do banco, cuja estrutura de capital é sólida.
OSX pede mais tempo para pagar financiamento
Em meio a rumores de que o BNDES teria adiado cobranças de contratos bilionários de empresas de Eike Batista no ano passado, a OSX, braço naval do grupo EBX, solicitou oficialmente, na última semana, a prorrogação do prazo de vencimento de dívidas. Um empréstimo de R$ 400 milhões, tomado em 2011, teria de ser pago no próximo mês.
Além de financiar investimentos de longo prazo, o BNDES atua por meio do BNDESPar, uma holding criada para permitir que a instituição se torne sócia de diversas empresas. O banco conta com participação em ao menos cinco empresas de Eike. A discussão ganhou contornos políticos na semana passada, quando o Senado convocou o presidente do banco, Luciano Coutinho, para explicar as operações entre a instituição e o grupo EBX. O Ministério Público também informou que fará um pente-fino em contratos do BNDES com Eike.
Não é de agora, porém, que o banco enfrenta polêmicas. Nos anos 1990, o chamado "escândalo dos grampos" envolvia suposto esquema para favorecimento do banqueiro Daniel Dantas na privatização do sistema Telebras. A denúncia derrubou o então presidente do BNDES, André Lara Resende, e o ministro das comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros.